sábado, 31 de março de 2007

Venham daí esses poemas de amor!

















Aqui fica mais um desafio para que me enviem poemas de vossa autoria. Desta vez o mote é... o Amor!
Podem enviar-me os vossos poemas até ao fim do mês de Abril. Prometo que os publicarei todos no dia 1 de Maio (sem qualquer espécie de censura).
Sonetos, quadras, poemas inspirados, poemas divertidos, poemas-recadinhos-de-amor, o que quiserem.
Não se preocupem com as figuras ridículas que eventualmente farão, porque...
"Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas."
No final, seleccionarei um poema que será gravado em audio pelo locutor Luís Gaspar, e será apresentada aqui essa versão em audio.
Para além disso, entrará na rubrica "Lugar aos Outros" do audioblogue "Estúdio Raposa" de Luís Gaspar.
O e-mail para onde devem enviar os vossos poemas é: inesramos.designer@gmail.com
Boa inspiração!

sexta-feira, 30 de março de 2007

Verlaine por... Léo Ferré




Chanson d'automne

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine

Hoje nasceu...




30 de Março de 1844

Paul Verlaine

Poeta francês


Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Décima ingénua ; III Marinha ; Versos para ser caluniado ; Resignação
Outros artigos: Ferré / Rimbaud / Verlaine
Arquivo audio: "Chanson d'automne"

Paul Verlaine

Paul Marie Auguste Verlaine nasceu no dia 30 de Março de 1844 em Metz, no leste da França, fez os estudos secundários em Paris, e entrou depois como funcionário para o município. Já nessa época, frequentava a boémia dos cafés parisienses, e era um funcionário pouco assíduo. Foi então que descobriu a poesia, que sempre reflectiu a contradição entre uma conduta de boémia e um ideal quase primitivo de pureza e misticismo. “Poèmes Saturniens” ("Poemas Saturninos, 1866) foi sua primeira colectânea publicada. Paul Verlaine professou de início a impassibilidade parnasiana, mas já o seu instinto poético o conduzia a dar maior agilidade ao alexandrino, a utilizar os ritmos ímpares a sugerir vagos estados por estrofes vaporosas. Poucas obras na história da poesia francesa são mais sinceras e comoventes.
O lirismo musical e evanescente de Verlaine exerceu influência decisiva no desenvolvimento do simbolismo (embora o próprio poeta se quisesse manter independente de qualquer corrente literária) e abriu novos caminhos para a poesia francesa. Com Mallarmé e Baudelaire, Verlaine criou o grupo dos chamados poetas decadentes.
Inquieto e instável, o poeta conquistou por algum tempo o equilíbrio e a paz, quando se casou em 1870 com Mathilde Meauté. Porém, dois anos depois, Verlaine abandonou a mulher e o filho e retomou os seus antigos hábitos boémios. Iniciou então, com o jovem poeta francês Arthur Rimbaud, uma turbulenta ligação sentimental que os levou a percorrer vários países.
Esta ligação tumultuosa entre os dois poetas acabaria em drama: em Julho de 1873, em Bruxelas, sob a influência da bebida, Verlaine disparou duas vezes em Rimbaud, que pretendia abandoná-lo, e foi preso.
Durante os dois anos de prisão, em Mons, veio a saber que a esposa pedira o divórcio. Profundamente abalado, Verlaine converteu-se à fé católica. Libertado, Verlaine tentou em vão reconciliar -se com Rimbaud. Viveu no Reino Unido até 1877, quando regressou a França. Testemunhas dessa fase de crise e conversão, são os seus dois livros "Romances sans paroles" (1874; Romances sem palavras) e "Sagesse" (1880; Sabedoria).
Apesar da sua crescente fama e de ser considerado um mestre pelos jovens simbolistas, o fracasso dos esforços que fez para recuperar a esposa e levar uma vida retirada conduziram Verlaine a uma recaída no mundo da boémia e do alcoolismo.
Os vários livros de poemas que se seguiram apenas ocasionalmente recuperaram a antiga magia, como “Amour” (1888). Da produção posterior de Verlaine, o que mais se destaca são os textos em prosa, como o ensaio “Les Poètes maudits” (1884; Os poetas malditos), vital para o reconhecimento público de Rimbaud, Mallarmé e outros autores, e as atormentadas obras autobiográficas “Mes hôpitaux” (1892; Meus hospitais) e “Mes prisons” (1893; Minhas prisões).
No final da vida, o poeta esgotou-se e o homem degradou-se. Apesar da celebridade e do respeito das novas gerações que o consagraram como o "Príncipe dos Poetas", Paul Verlaine viveu miseravelmente de hospital em hospital e de café em café até à sua morte em 1896, em Paris.

Décima ingénua

Oh lembrança de infância, e leite alimentício,
E oh adolescência e o seu esplendor de início!
Nos tempos de garoto era já meu labor
— Pra evocar a Fémea e embalar a dor
De ter um pirilau, imperceptível ponta
Irrisória, prepúcio imenso aonde aponta
O esperma que há-de vir, ó sebácea miragem,
Bater punheta com essa bonita imagem
De uma suave pele de ama de menino.

Pois inda hoje bato a punheta sozinho!

1890
Paul Verlaine
Hombres e Algumas Mulheres
(tradução de Luiza Neto Jorge)

III Marinha

O oceano sonoro
Palpita no olhar
Da lua a chorar
E palpita agora

Enquanto um relâmpago
Brutal e sinistro
Rasga o céu de bistre
Num ziguezague branco

E a água ondulante
Salta convulsiva
Junto dos recifes,
Vai, vem, reluz, clama,

E no firmamento
Onde erra o tufão
Já ruge o trovão
Formidavelmente.

Paul Verlaine
(Poema Saturnianos e Outros)
(tradução de Fernando Pinto do Amaral)

Versos para ser caluniado

................................A Charles Vignier

Debrucei-me esta noite sobre o teu sono.
Dormia o corpo casto sobre o lençol
E vi, como alguém que lesse, estudioso,
Ah! vi que tudo é vão sob a luz do sol!

Estarmos vivos, ó que rara maravilha,
Como o nosso organismo é flor que se dobra!
Ó pensamento que levas ao delírio!
Dorme, vá! Quanto a mim, este assombro acorda-me,

Ah, desgraça de te amar, frágil amante;
Respiras como se respira um instante!
Ó olhar fechado que à morte é igual!

Ó boca a rir em sonhos na minha boca,
À espera de outra gargalhada mais louca!
Depressa, acorda. Ouve, a alma é imortal!

Paul Verlaine
(Dantes e Outrora)
(tradução de Fernando Pinto do Amaral)

Resignação

Durante a minha infância imaginava
O Ko Hinor, luxo persa e papal,
Heliogabalo e Sardanapalo!

Sob os tectos de ouro o desejo urdia,
Entre os perfumes e as melodias,
Haréns sem fim, palpáveis paraísos!

Hoje, mais calmo e não menos vibrante,
Mas conhecendo a vida que nos quebra,
Tive de refrear a minha febre
Sem me resignar muito, no entanto.

Seja! a grandeza não é pròs meus dentes,
Mas não me interessa a escória, as cortesias!
Insisto em odiar mulheres bonitas,
Rimas toantes e amigos prudentes.

Paul Verlaine

Encontro Poético no Palácio Galveias






Realiza-se amanhã, 31 de Março, entre as 18h00 e as 20h00, o habitual Encontro Poético no Palácio Galveias, organizado pela Associação Portuguesa de Poetas.
Campo Pequeno – Lisboa

quinta-feira, 29 de março de 2007

Esta semana no "Da Mariquinhas"...

Estão em promoção os seguintes livros:





90 e mais quatro poemas, Constantino Cavafy (Asa)









Estrela da vida inteira, Manuel Bandeira (Editora Nova Fronteira)








Poesia Grega de Álcman a Teócrito, organização de Frederico Lourenço (Cotovia)





Aproveitem!

O Bar/Livraria de Poesia "Da Mariquinhas" fica na Rua dos Cordoeiros (Portas 8 e 10), ao Largo de Santo Antoninho, no popular bairro da BICA, em Lisboa, e está aberto de quarta a domingo, do meio-dia à meia-noite.

Sugestão da Andante para esta semana

NÃO QUERO, NÃO

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Quero um cavalo só meu,
seja baio ou alazão,
sentir o vento na cara,
sentir a rédea na mão.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.

Não quero muito do mundo:
quero saber-lhe a razão,
sentir-me dono de mim,
ao resto dizer que não.

Não quero, não quero, não,
ser soldado nem capitão.


Eugénio de Andrade
(de Aquela Nuvem e Outras)


Interpretado pela Andante:


Voz: Cristina Paiva; Música: W. A. Mozart; Piano: Klára Wurtz

A Andante vai estar no próximo sábado, 31 Março de 2007, na Biblioteca Municipal de Carnaxide, pelas 21.3oh, para apresentar o espectáculo de Poesia:
"Às escuras, o amor"

terça-feira, 27 de março de 2007

Conversas na Bulhosa






Amanhã, 28 de Março, a partir das 18h 30m, Nuno Júdice estará na Livraria Bulhosa de Entrecampos para conversar sobre a sua obra.
Outros eventos durante o mês evocarão o autor.
A programação completa encontra-se no site da livraria: www.bulhosa.pt

Hoje nasceu...




27 de Março 1937

Affonso Romano de Sant'Anna

Poeta brasileiro





Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: O amor e o outro ; Catando os cacos do caos ; Assombros

Affonso Romano de Sant'Anna

Affonso Romano de Sant'Anna nasceu em Belo Horizonte, no dia 27 de Março de 1937.
Teve uma infância pobre e trabalhou desde cedo para pagar os seus estudos. Filho de pais protestantes, foi educado para ser pastor. Aos 17 anos pregava o evangelho em várias cidades de Minas Gerais, visitava bairros de lata, prisões e hospitais, convivendo com pessoas pobres e sofridas. Essa experiência iria influenciá-lo futuramente nos seus textos e poesias, de forte conteúdo social.
Completou os estudos na Faculdade de Letras de Belo Horizonte, tornando-se bacharel.
Fez parte dos movimentos que transformaram a poesia brasileira, sempre interagindo com grupos de vanguarda e construindo a sua própria linguagem e trajectória. Participou em movimentos políticos e sociais que marcaram o país. Como poeta e cronista, foi considerado pela revista "Imprensa", em 1990, como um dos dez jornalistas formadores de opinião por desempenhar actividades no campo político e social que marcaram o país nos anos 60.
Em 1965 mudou-se para Los Angeles onde, durante dois anos, deu cursos de Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia.
Em 1968 retornou aos Estados Unidos para, durante dois anos, participar como bolsista do International Writing Program, na cidade de Iowa, dedicado a jovens escritores de todo o mundo.
Apresentou na Universidade Federal de Minas Gerais, em 1969, a sua tese de doutoramento "Carlos Drummond de Andrade, o Poeta "Gauche", no Tempo e Espaço", publicada em 1972 e que lhe valeu os quatro prémios mais importantes no universo literário brasileiro.
Entre 1973 e 1976, dirigiu o Departamento de Letras e Artes da PUC/RJ. Para o curso de Pós-Graduação em Letras, realizado em 1976 na PUC/RJ, promoveu a ida ao Brasil de conferencistas internacionais, entre os quais Michel Foucault, sociólogo francês. Houve grande repercussão da visita de Foucault ao país, que se encontrava em pleno regime ditatorial.
Em 1976 voltou aos Estados Unidos para leccionar Literatura Brasileira na Universidade do Texas.
Em 1978 tornou-se professor de Literatura na Universidade de Colónia, na Alemanha.
Leccionou durante dois anos na Universidade Aix-en-Provence, em França, como professor visitante.
Em 1984 assumiu no "Jornal do Brasil" a coluna anteriormente escrita por Carlos Drummond de Andrade.
Em 1990 foi nomeado Presidente da Fundação Biblioteca Nacional (a oitava maior biblioteca do mundo, com mais de oito milhões de volumes), cargo que ocupou até 1996. Informatizou a Biblioteca, criou o Sistema Nacional de Bibliotecas, reunindo 3000 instituições e o PROLER (Programa de Promoção da Leitura), que contou com mais de 30000 voluntários em 300 municípios brasileiros. Lançou a revista "Poesia Sempre", de circulação internacional, e apresentou edições especiais sobre a América Latina, Itália, Portugal, Alemanha, França e Espanha.
Presidiu o Conselho do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe (CERLALC), no período 1993/1995, e foi também Secretário Geral da Associação das Bibliotecas Nacionais Ibero-Americanas (1995/1996), que reúne 22 instituições.
Cronista do jornal "O Globo", tem também participação em programas na TV Globo.
Proferiu conferências em diversos países, como: México, Dinamarca, Chile, Canadá, Argentina, Portugal, Estados Unidos e Espanha.
Tem obras traduzidas em inglês, francês, alemão, polaco, espanhol e italiano.
Foi agraciado com o Prémio Especial de Marketing — concedido pela Associação Brasileira de Marketing, pelo trabalho realizado na Biblioteca Nacional.
Além deste, recebeu os seguintes prémios:
"Prémio Mário de Andrade" - Com o livro "Drummond, o gauche no tempo."
"Prémio Fundação Cultural do Distrito Federal" - Com o livro "Drummond, o gauche no tempo."
"Prémio União Brasileira de Escritores" - Com o livro "Drummond, o gauche no tempo."
"Prémio Pen-Clube" - Com o livro "O canibalismo amoroso"
"Prémio União Brasileira de Escritores" - Com o livro "Mistérios Gozosos"
"Prémio APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte", pelo conjunto da obra.

Obra:

Poesia:
"Canto e Palavra"- 1965
"Poesia sobre Poesia"- 1975
"A Grande Fala do Índio Guarani"- 1978
"Que País é Este?"- 1980; 1984
"A Catedral de Colónia e Outros Poemas"- 1987
"A Poesia Possível" (poesia reunida) - 1987
"O Lado Esquerdo do Meu Peito"- 1991
"Epitáfio para o século XX" (antologia) - 1997
"Melhores poemas de Affonso Romano de Sant'Anna" - 1998
"A grande fala e Catedral de Colónia" (ed. comemorativa) -1998
"O intervalo amoroso" (antologia) - 1999
"Textamentos" - 1999
"Vestígios" - 2005
"A cegueira e o saber" - 2006

Crónicas:
"A Mulher Madura"- 1986
"O Homem que Conheceu o Amor"- 1988
"A Raiz Quadrada do Absurdo"- 1989
"De Que Ri a Mona Lisa?"- 1991
"Mistérios Gozosos"- 1994
"A vida por viver" - 1997
"Porta de Colégio" (antologia) - 1995
"Nós os que matamos Tim Lopes" - 2002
"Pequenas seduções" - 2002
"Que presente te dar" - 2002
"Antes que elas cresçam" - 2003
"Os homens amam a guerra" - 2003
"Que fazer de Ezra Pound" 2003

Ensaios:
"O Desemprego da Poesia"- 1962
"Drummond, o "gauche" no tempo" - 1990
"Política e Paixão"- 1984
"Análise Estrutural de Romances Brasileiros" - 1989
"Por um novo Conceito de Literatura Brasileira"- 1997
"Música Popular e Moderna Poesia Brasileira" - 1997
"Emeric Marcier "- 1993
"O Canibalismo Amoroso"- 1990
"Paródia Paráfrase & Cia."- 1985
"Como se Faz Literatura"- 1985
"Agosto 1991: Estávamos em Moscovo"- 1991 (com Marina Colasanti)
"O que aprendemos até agora?" - 1984; 1994
"Barroco, alma do Brasil" - 1997
“A sedução da palavra” (ensaio e crónicas) - 2000
“Barroco, do quadrado à elipse” - 2000
“Desconstruir Duchamp” - 2003

O amor e o outro

Não amo
............... melhor
nem pior
do que ninguém.

Do meu jeito amo.
Ora esquisito, ora fogoso,
às vezes aflito
ou ensandecido de gozo.
Já amei
...............até com nojo.

Coisas fabulosas
acontecem-me no leito. Nem sempre
de mim dependem, confesso.
O corpo do outro
é que é sempre surpreendente.


Affonso Romano de Sant'Anna

Catando os cacos do caos

Catar os cacos do caos
como quem cata no deserto
o cacto
............ — como se fosse flor.

Catar os restos e ossos
da utopia
............ como de porta em porta
o lixeiro apanha
detritos da festa fria
e pobre no crepúsculo
se aquece na fogueira erguida
com os destroços do dia.

Catar a verdade contida
em cada concha de mão,
como o mendigo cata as pulgas
no pêlo
............ — do dia cão.

Recortar o sentido
como o alfaiate-artista,
costurá-lo pelo avesso
com a inconsútil emenda
à vista.

Como o arqueólogo
reunir os fragmentos,
como se ao vento
se pudessem pedir as flores
despetaladas no tempo.

Catar os cacos de Dionisio
e Baco, no mosaico antigo
e no copo seco erguido
beber o vinho
ou sangue vertido.

Catar os cacos de Orfeu partido
pela paixão das bacantes
e com Prometeu refazer
o fígado
............ — como era antes.

Catar palavras cortantes
no rio do escuro instante
e descobrir nessas pedras
o brilho do diamante.

É um quebra-cabeça? ............ Então
de cabeça quebrada vamos
sobre a parede do nada
deixar gravada a emoção

......Cacos de mim
......Cacos do não
......Cacos do sim
......Cacos do antes
......Cacos do fim

Não é dentro
............ nem fora
embora seja dentro e fora
..... no nunca e a toda a hora
que violento
.....o sentido nos deflora.

Catar os cacos
do presente e outrora
e enfrentar a noite
com o vitral da aurora

Affonso Romano de Sant'Anna

Assombros

Às vezes, pequenos grandes terramotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

Affonso Romano de Sant'Anna

domingo, 25 de março de 2007

Poemas em voz alta

"O menino da sua mãe"

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa
(Cancioneiro)

Na voz de João Villaret:

sábado, 24 de março de 2007

Poemas em voz alta

Lisbon revisited
(1923)

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho,
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos

Na voz de Luís Gaspar:

Filo-Café: Ritos e Rituais

Hoje, 24 de Março, às 21h30
No Clube Literário do Porto (Rua Nova da Alfândega, 22)

Pensamento, Antropologia, Poesia, Música, Fotografia, Vídeo-criação, Performance

Durante o Filo-Café será apresentado o livro Amalaya (poesia, bilingue castelhano-português) de Sílvia Zayas.

O Filo-Café contará com:
Abel Morán (León, performance), Alberto Augusto Miranda (org), Alexandre Teixeira Mendes (Porto, pensamento), Alice Valente (Lisboa, artes), Amilcar Mendes (Porto, poesia), Aurelino Costa (Argivai, poesia), Belen Sola Pizarro (León, performance), Carlos Gil (Almeirim, letras), Conceição Paulino (Porto, poesia), Deborah Nofret (Ponferrada, performance), Gerardo Queipo (Ponferrada, artes), Henrique Doria (Porto, poesia), Isabel Marcolino (Gaia, poesia), Jorge Taxa (Porto, pensamento), Lois Gil Magariños (Rois, poesia), Luis Graça (Lisboa, performance), Luz Gomes (Monção, poesia), Maritza Alvarez (Ponferrada, artes), Nuno Rebocho (Lisboa, poesia), Pedro Lamas Carral (Pontecesures, música), Pedro Sena Nunes (Lisboa, vídeo-criação), Ramón Cruces (Tilos-Teo, performance), Rogério Carrola (V. N. Sto André, poesia), Rosario Granell (León, performance), Sabela Arias (Corunha, vídeo-pintura), Salviano Ferreira (Oliveira do Douro, poesia), Silvia Zayas (León, performance), Teixeira Moita (Braga, literatura), Teresa David (Lisboa, fotografia), Tiago Moita (S. João da Madeira, poesia).
Mais informações: 96 581 73 37

sexta-feira, 23 de março de 2007

Prémio literário Dom Dinis atribuído a Fernando Echevarría




O Prémio literário Dom Dinis, instituído pela Casa de Mateus, foi atribuído este ano por unanimidade ao poeta Fernando Echevarría, pelo livro Epifanias, publicado pelas Edições Afrontamento. Echevarría, um dos mais destacados nomes da poesia portuguesa, é autor de uma vasta obra e recentemente reuniu toda a sua produção poética na antologia Obra Inacabada.
Echevarría nasceu em 1929 em Cabezón de la Sal (Santander, Espanha), é filho de pai português e mãe espanhola, estudou em Portugal e em Espanha e reside actualmente no Porto.
Obras:
Entre Dois Anjos (Poesia), 1956
Tréguas para o Amor (Poesia), 1958
Sobre as Horas (Poesia), 1963
Ritmo Real (Poesia), 1971
A Base e o Timbre (Poesia), 1974
Media Vita (Poesia), 1979
Introdução à Filosofia (Poesia), 1981
Fenomenologia (Poesia), 1984
Figuras (Poesia), 1984 ; 1987
Poesia: 1956-1979 (Poesia), 1989
Livro, poema com texto impresso em serigrafia no Atelier 87 em Paris e com 8 litografias de Jorge de Sousa executadas pelo mesmo à mão. Edição de 40 ex. em vélin de rives bfk (Poesia), 1991
Sobre os Mortos (Poesia), 1991
Poesia: 1980-1984 (Poesia), 1993
Uso de Penumbra (Poesia), 1995
Geórgicas (Poesia), 1998
Poesia: 1959-1980 (Poesia), 2000
Poesia: 1987-1991 (Poesia), 2001
Epifanias (Poesia), 2006

Dos vários galardões recebidos destacam-se o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, Prémio de Poesia do Pen Clube, Prémio António Ramos Rosa, Prémio Fundação Luís Miguel Nava e Prémio Teixeira de Pascoaes.

Na estante de culto



Fernando Pessoa
Obra Poética


Reúne-se neste volume o máximo possível da produção poética de Fernando Pessoa, em 842 páginas de “papel bíblia”, com organização, introdução e notas de Maria Aliete Galhoz, que se serviu, como matriz-base, dos oito primeiros volumes das Obras Completas de Fernando Pessoa, publicadas pela Ática, na sua Colecção Poética. Nesta edição, mantêm-se os inéditos acrescentados à primeira e segunda edições, assim como as Quadras ao Gosto Popular incorporadas na terceira edição, publicadas pela Ática em 1965.
A cronologia da vida e da obra de Fernando Pessoa, apresentada neste volume é de João Gaspar Simões.

Este volume está organizado do seguinte modo:
Poesia de Fernando Pessoa:
• Mensagem
• À Memória do Presidente-Rei Sidónio Pais
• Quinto Império
• Cancioneiro
Ficções do Interlúdio:
• Poemas completos de Alberto Caeiro
• Odes de Ricardo Reis
• Poesias de Álvaro de Campos
• Para além doutro Oceano de C(oelho) Pacheco
Poemas dramáticos:
• Na floresta do Alheamento
• O Marinheiro
• Primeiro Fausto
Poesias coligidas:
• Inéditas
• Poemas ingleses
• Poemas franceses
• Poemas traduzidos para o português
Quadras ao Gosto Popular:
• 325 quadras
• Poemas para Lili
• Poema Pial
• Novas poesias inéditas

Este volume tem ainda um Apêndice com variantes, esclarecimentos, notas críticas e uma bibliografia.

A primeira edição é de 1960 e já foi reeditado várias vezes, em reimpressão da terceira edição revista e aumentada (esta, de 1969).
Editora Nova Aguilar

quinta-feira, 22 de março de 2007

Ontem, na Casa Fernando Pessoa















Ontem, na Casa Fernando Pessoa, festejou-se assim a Poesia.
Houve uma Feira do Livro de Poesia, ouviu-se jazz durante a tarde (Wishful Thinking) e à noite, depois de alguns poetas lerem poetas, pela voz de João Afonso e ao som do piano de João Lucas, recordou-se Zeca Afonso.
Os poetas presentes, Maria do Rosário Pedreira, Pedro Mexia, José Luís Tavares, Pedro Sena-Lino, Eduardo Pitta, Fernando Pinto do Amaral e Ana Marques Gastão, leram poemas seus e também de Camões, Jorge de Sena, Cesariny, Ruy Belo, Luiza Neto Jorge, Francisco José Viegas, entre outros.
O poeta cabo-verdiano José Luís Tavares agraciou-nos ainda com a estrofe final da Ode Marítima de Álvaro de Campos, declamada em crioulo.

A TUA LINHA


A tua linha tinha hora marcada
mas nós não sabíamos se era a do Tua

A tua linha tinha hora marcada
mas nós não sabíamos do cais da chegada

A 18 de Março estava um dia de sol
e fui de comboio p’ra correr na ponte

Lembrei-te de ti e da tua paixão
essa grande paixão por comboios pequenos

E do teu olhar a brilhar p’ra mim
olhos-diamante a dizer que sim

Está num dia sol, no outro faz chuva
a seguir à chuva há-de haver mais sol

E porque nutrias afecto por mim
e eras um homem de quem eu gostava

Guarda-me um lugar de primeira classe
na Linha do Tua, com vista prò mar


Luís Afonso, 20/3/2007, 13h38m


Em memória de António Miguel Serrano da Silva (31-8-1930/20-3-2007).

quarta-feira, 21 de março de 2007

Hoje é... Dia Mundial da Poesia!

Senhoras e senhores:

Quando falo à frente de muitas pessoas parece-me sempre que errei na porta. Mãos amigas empurraram-me, e aqui estou. Metade das pessoas vive perdida entre cenários, árvores pintadas, fontes de lata e, quando julga que encontrou o seu quarto ou um círculo de morno sol, encontra-se com um caimão que a engole ou... com o público, como eu neste momento. E hoje não tenho mais espectáculo além de uma poesia amarga, mas viva, que julgo capaz de abrir os olhos à força de chicotadas que lhe dei. (...)
De qualquer forma, há que ser claro. Hoje não venho aqui para vos entreter. Nem quero, nem me importa, nem tenho vontade. Melhor dizendo, vim lutar. Lutar corpo a corpo com uma massa tranquila, pois o que vou fazer não é uma conferência, é uma leitura de poesias, carne minha, alegria minha e sentimento meu, e preciso de me defender deste enorme dragão que tenho à frente, que me pode comer com os trezentos bocejos das suas trezentas cabeças defraudadas. E a luta é esta; quero veementemente comunicar convosco já que vim, já que estou aqui, já que saio um instante do meu grande silêncio poético e não quero dar-vos mel, porque o não tenho, apenas areia, ou cicuta, ou água salgada. Luta corpo a corpo onde me não importa ser vencido.

Federico Garcia Lorca
in Lorca - Nova York num poeta
(Tradução de António Moura)


Interpretado pela Andante (excerto do espectáculo “A Colhida e a Morte” de 2002):


Voz: Cristina Paiva; Música: Scott Joplin; Piano: Joaquim Coelho

Algumas sugestões para hoje, Dia Mundial da Poesia

BRAGANÇA – Sarau de Poesia
Em Bragança a data é pretexto para a realização do IV Sarau de Poesia, em organização conjunta com a Câmara Municipal e com a colaboração das escolas Abade de Baçal, Ballet de Bragança, Conservatório de Música de Bragança, Emídio Garcia, Miguel Torga, Superior de Educação e Universidade Sénior e alguns poetas convidados que declamam poemas de outros autores e da sua autoria.
Pelas 21.30h, no Centro Cultural Paulo Quintela

CASTRO VERDE – Andante à Volta da Língua
Um espectáculo de teatro sobre a poesia portuguesa. Partindo de textos exclusivamente de autores de língua portuguesa, este espectáculo dá uma leitura diferente a esses textos. Mostra-os na sua forma, no seu conteúdo, na sua sonoridade. Evidenciar a língua portuguesa como língua viva: como os autores contemporâneos foram buscar as suas referências formais e de conteúdo a autores mais antigos e como partindo dessas referências a língua se desenvolveu e continua em transformação. Tenta a Andante mostrar como a reinvenção da língua é um acontecimento quotidiano, não só em Portugal, mas também em outros países onde se fala o português.
Pela Associação Artística Andante, hoje, na Biblioteca Municipal de Castro Verde, às 21H30.

FARO – Recital de Poesia
Para assinalar o Dia Mundial da Poesia, realiza-se na Biblioteca Municipal de Faro, o recital “As Minhas Ofélias: vozes e olhares no feminino”, pelo grupo Experiment’ Arte.
O recital acontece às 21:30 horas e destina-se ao público em geral. Trata-se de uma organização da Câmara Municipal de Faro e da Biblioteca Municipal de Faro.

LAGOS – Tributo a Miguel Torga
“Raízes à Solta”
Na Biblioteca Municipal Dr. Júlio Dantas, às 21H30.
Organização: C. M. Lagos
“Como hei-de saber o que desejo
Se tudo o que tenho não me apetece!”
Miguel Torga e o seu mundo de palavras áridas e insatisfeitas. Miguel e os seus contemporâneos.
O TEL associa-se uma vez mais à Biblioteca Municipal para assinalar a passagem do Dia Mundial da Poesia, este ano com um tributo a Miguel Torga.

LISBOA – Poesia no Frágil
Serão de poesia na discoteca Frágil, que celebra este ano o seu 25.º aniversário, a partir das 23H00.
Graciano Dias lerá poemas de Herberto Helder, Paulo Abelho & João Eleutério farão a música e o concerto da noite está reservado às Danças Ocultas.

LISBOA - Dia Mundial da Poesia na Casa Fernando Pessoa
A partir das 10h00, Feira do Livro de Poesia, com descontos excepcionais. No jardim, até à 00h00.
A partir das 18h30 até às 21h00, música no auditório e jardim com o Wishful Thinking (jazz).
Às 21h30, poetas lêem poetas. Com Maria do Rosário Pedreira, Pedro Mexia, José Luís Tavares, Pedro Sena-Lino, Eduardo Pitta, Fernando Pinto do Amaral e Ana Marques Gastão.
Depois, Um Redondo Vocábulo por João Afonso e João Lucas – música e poesia de José Afonso.
Pela noite fora, há música, poesia, todos os pisos da Casa Fernando Pessoa estão abertos ao público (incluindo a Biblioteca), há uma exposição de fotografia de Jordi Burch e haverá uma ceia tardia.
Rua Coelho da Rocha, 16 - Campo de Ourique

LISBOA – Poesia na Hemeroteca Municipal
Declamações de Poemas e Canto
R. de S. Pedro de Alcântara, 3,
1250-237 Lisboa

LOULÉ – Comemorações do Dia Mundial da Poesia
Pelas 21:30 horas, na Biblioteca Municipal de Loulé, um recital de poesia por Afonso Dias com o tema “Poetas da Lusofonia – A língua Portuguesa, viajante das sete partidas”.
Afonso Dias recitará 50 poemas de 50 poetas, de oito países que falam português: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor. Não vão faltar nomes como os de Agostinho Neto, Vinicius de Moraes, Corsino Fortes, Vasco Cabral, José Craveirinha, Camões, Olinda Beja, Xanana Gusmão entre outros.
Afonso Dias é músico, autor de canções e actor. Tem colaborado nos últimos anos com a ACTA – Companhia de Teatro do Algarve. Encontra-se a gravar a colecção de poesia em CD, Selecta, que prevê a edição de 23 volumes referentes aos poetas mais representativos da lusofonia.
Estará ainda patente, de 19 a 31 de Março, uma mostra bibliográfica de Poesia Lusófona, que pretende dar a conhecer a bibliografia existente na Biblioteca acerca dos oito países lusófonos.

MATOSINHOS– Concerto pelos Wordsong
Os Wordsong vão celebrar o dia mundial da poesia com um concerto em Matosinhos.
O concerto decorre na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, tem início pelas 21h30 e a entrada é livre.

ODIVELAS - Recital de Poesia
“PASSOS POÉTICOS” - Espaço Poético 07
Na Biblioteca Municipal D. Dinis – Centro Cultural Malaposta, às 21h30.
No Café Teatro
Entrada Livre

PORTIMÃO – Recitais de Poesia
15h00: Recital de Poesia com Sandro Junqueira e Luís Conceição
Local: Zona Ribeirinha de Portimão
21h30: Recital de Poesia “ …entre nós e as palavras…” por Sandro Junqueira e Luís Conceição
Local: Salão Nobre da Câmara Municipal
Durante todo o dia haverá poesia itinerante declamada por jovens.

PORTO - “Poesia de boca em boca”
10H30, 15H00 e 19H00
Apresentação de um vídeo no âmbito da comemoração do dia mundial da poesia.
Este projecto junta os participantes de «A Nossa Casa é um Teatro» a alguns artistas e não artistas. Juntos constroem um diálogo assente na leitura de poemas. Momentos de troca, onde a poesia anda de boca em boca e quer continuar…
No Teatro do Campo Alegre
Rua das Estrelas - 4150-762 Porto

SANTARÉM – Espectáculos de Poesia
“O Humor na Poesia Portuguesa” pelo grupo “A Phala” e “A Poesia que o corpo tem...” são dois espectáculos que vão estar em cena, hoje, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém.
10h00: Sala de espectáculos – “O Humor na Poesia Portuguesa” pelo Grupo A Phala – integrado no projecto "A Escola vai ao Teatro"
21h30: Bar do Teatro – “A Poesia que o corpo tem...” – Poetas do humor (e doutros) ditos por Scalabitanos - integrado no projecto Tertuli'Arte.
Todos vão poder participar e recitar um poema, ou simplesmente falar de poesia, serão também disponibilizados livros de poesia.

SANTO TIRSO - “A Poesia está na rua”
Este ano, o tema de «A Poesia está na Rua» é «A Fé na Poesia», sendo o homenageado José Tolentino de Mendonça, teólogo, poeta, dramaturgo, ensaísta e padre.
A quarta edição de «A Poesia está na Rua» culmina hoje, dia 21, com as já tradicionais «24 horas de poesia», este ano marcadas pelo «Roteiro dos Conventos».
Nesta iniciativa, os mosteiros abrirão as suas portas para acolher todos os interessados em ouvir, através da poesia ou de outras formas de expressão escrita, o testemunho público da experiência vivida pelos poetas no silêncio conventual.
«A Poesia está na Rua» é promovida anualmente pela Câmara de Santo Tirso com o objectivo de «dar expressão festiva à poesia, trazendo-a para o espaço público - a rua, os cafés, jardins, bares, discotecas, escolas, farmácias e outras lojas de comércio».
O programa de «A poesia está na rua» compreende recitais de poesia e música em locais públicos, lançamentos de livros, encontros e debates.

S. DOMINGOS DE RANA – Recital de Poesia
Sessão dedicada à poesia de Eugénio de Andrade, no âmbito de um ciclo que tem vindo a animar a biblioteca de S. Domingos de Rana desde Setembro de 2005. Pelas 22h00.
"Eu, génio das mãos e dos frutos"
Grupo dinamizador: Jorge Castro, Lídia Castro, Rui Farinha e Cristina Vieira

S. JOÃO DA MADEIRA - “Poesia à Mesa”
A Câmara Municipal de S. João da Madeira assinala o Dia Mundial da Poesia com a campanha «Poesia à Mesa».
Nos cafés da zona pedonal da cidade serve-se o «Chá das Cinco», com declamações baseadas no livro de Ana Hatherly; na Praça Luís Ribeiro os livros de poesia estarão disponíveis para consulta e venda porque «A biblioteca vai à Praça»; nos cafés e quiosques das zonas industriais do concelho, quem aprecia surpresas encontrará potes de rifas em que umas guardam poemas e outras oferecem livros; e pelo centro da cidade haverá um estendal de corda, a secar papel com versos já consagrados e também folhas brancas para os transeuntes escreverem os poemas de sua autoria.
Durante o dia, os estudantes de S. João da Madeira vão afixar poemas nas árvores da cidade; às 21.15 inaugura-se na biblioteca a exposição «Orfeu e Eurídice», com desenhos de Graça Morais inspirados em poemas de Sophia de Mello Breyner; e às 21.45 convidados ainda por definir revelam nos Paços da Cultura os textos que seleccionaram para a colecção «Poemas da minha vida», distribuída com o jornal Público.

VALE DE CAMBRA - "A Música também se diz"
A Câmara Municipal de Vale de Cambra celebra o Dia Mundial da Poesia, com "A Música também se diz", uma tertúlia poética pelos alunos da Escola Secundária de Vale de Cambra e da Academia de Vale de Cambra.
"A Música Também se Diz" decorrerá, a partir das 20h30m, na Biblioteca Municipal de Vale de Cambra e é aberta a toda a comunidade.

RÁDIO:
- “Os Meus Livros” na Miróbriga, às 11H25 e às 17H45.
- “Biblioteca Virtual” na Rádio Europa, às 11H30 e 15H15.
- “Pessoal e Transmissível” na TSF, às 19H15.
- “Um Certo Olhar” na Antena 2. Entre as 12H00 e as 13H00.
- “Última Edição” na Antena 2, às 20H00.
- “À Volta dos Livros” na Antena 1,às 16H40.
- "Palavras de Ouro" no audioblogue Estúdio Raposa.

TELEVISÃO:
- “Páginas Soltas” na SIC Notícias, às 15H00.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Já saiu a revista "Águas Furtadas" n.º 10




A revista terá uma primeira apresentação no dia 24 de Março, nos Espaços JUP (Rua Miguel Bombarda, 187), no Porto, às 16h00, no âmbito das comemorações dos 20 anos do NJAP/JU, a associação que edita a "aguasfurtadas".

Na área da literatura, inclui, entre outros, contos de António Gregório e Luís Graça, e um ensaio de Tiago Bartolomeu Costa sobre o lugar do público no teatro contemporâneo português.

Na área do ensaio, a "aguasfurtadas" 10 inclui um extraordinário texto de Manuel António Pina sobre o urso "Winnie-the-Pooh".

Na área da poesia, e como é habitual, a "aguasfurtadas" 10 inclui diversos autores. Entre eles estão Rogério Rola, Pedro Amaral, Vítor Oliveira Jorge, Gez Walsh (traduzido por Helder Moura Pereira) e Angélica Freitas.
Inclui também um texto em prosa do autor russo Óssip Mandelstam, "Achtarak", que faz parte do ciclo "Viagem à Arménia", ainda inédito em português. A tradução é da responsabilidade dos incontornáveis Nina Guerra e Filipe Guerra. Manuel Resende, por sua vez, traduziu para a "Águas Furtadas" 10 o poema "Une Negresse", de Stéphane Mallarmé, e o Soneto 57, de William Shakespeare.

Mais informações, aqui.

Poemas em voz alta

Se sou alegre ou sou triste?...
Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?

Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sei que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sente o que Deus fadou.

Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim...
Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim...
Mas a alegria é assim...

Fernando Pessoa
20/8/1930

Na voz de Luís Gaspar:

quinta-feira, 8 de março de 2007

Hoje nasceu...





8 de Março de 1915

Ruy Cinatti

Poeta português



Artigos relacionados:
Biografia
Poemas: Memória amada ; Vigília

Ruy Cinatti

Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes nasceu em 8 de Março de 1915 em Londres, tendo vindo ainda criança, para Portugal. Formou-se no Instituto Superior de Agronomia, em Fitogeografia, (área em que publicou vários trabalhos científicos) e partiu para Inglaterra onde estudou Etnologia e Antropologia Social, em Oxford. Entre 1943 e 1945 desempenhou o cargo de meteorologista aeronáutico da Pan American Airways. Viajou pelo Mundo, tendo vivido alguns anos em Timor, onde exerceu o cargo de secretário de gabinete do governador de Timor, entre 1946 e 1948, e chefe dos serviços de Agricultura do governo de Timor, dedicando a este território vários estudos, na área da fitogeografia e da antropologia social, (alguns dos quais publicados pela Junta de Investigação do Ultramar, de que foi investigador). Em 1940, co-dirigiu, com Tomás Kim e José Blanc de Portugal, na primeira série, e com Jorge de Sena, José Blanc de Portugal e José Augusto França, na segunda série, a publicação "Cadernos de Poesia", que sob o lema "Poesia é só uma", apresentava como objectivo "arquivar a actividade da poesia actual sem dependência de escolas ou grupos literários, estéticas ou doutrinas, fórmulas ou programas". Foi nas edições "Cadernos de Poesia" que publicou as suas primeiras obras poéticas: "Nós Não Somos deste Mundo", em 1941 e, no ano seguinte, "Anoitecendo a Vida Recomeça". Entre 1942 e 1943, fundou a revista "Aventura", tendo como redactores Eduardo Freitas da Costa, José Blanc de Portugal, Jorge de Sena e Manuel Braamcamp Sobral. Foi a partir de "O Livro do Nómada Meu Amigo", de 1958, que a presença dos territórios por onde viajou e sobretudo de Timor, se assumiria como "objecto em que se concretiza a aproximação do poeta consigo mesmo e com a vida humana dos outros". Devido ao seu trajecto profissional e a uma personalidade que recusou integrar qualquer tipo de grupos ideológicos ou literários, a poesia de Ruy Cinatti possui uma voz própria, sem comparação com qualquer outra experiência poética contemporânea, nascida de uma liberdade métrica e lexical total, que consegue integrar na obra poética materiais tradicionalmente não poéticos, com uma particular relação com espaços e populações, cuja fragilidade parece condená-los a uma exterminação contra a qual o poeta tinha consciência de não poder lutar, mas que motivou composições de revolta e de grande intensidade emocional, como as de "Timor Amor" ou de "Paisagens Timorenses com Vultos". Foi galardoado com o Prémio Antero de Quental, pela obra "O Livro do Nómada Meu Amigo" e com o prémio Nacional de Poesia, por "Sete Septetos".
Ruy Cinatti faleceu em Lisboa, em 1986.

Obras:
"Nós Não Somos Deste Mundo", 1966;
"Anoitecendo a Vida Recomeça", 1942;
"Poemas Escolhidos", 1951;
"O Livro do Nómada Meu Amigo", 1958;
"Sete Septetos", 1967;
"Crónica Cabo Verdeana", 1967;
"Ossobó",1967;
"O Tédio Recompensado", 1968;
"Borda d'Alma", 1970;
"Uma Sequência Timorense", 1970;
"Memória Descritiva", 1971;
"Conversa de Rotina", 1973;
"Os Poemas do Itinerário Angolano", 1974;
"Cravo Singular", 1974;
"Timor Amor", 1974;
"Paisagens Timorenses com Vultos", 1974;
"O A Fazer, Faz-se", 1976;
"Import Export", 1976;
"Lembranças para S.Tomé e Príncipe", 1972.

Memória Amada

Para Alain Fournier

Vinham de longe em bandos. Acorriam
Jubilosos. Fantasias
De parques pluviosos
E, descendo,
Os patos bravos lançados
Entre juncos, salgueiros e veados.
Tarde,
Muito tarde, uns olhos tais
Haviam de aparecer, sobressaltados
Entre enigmas e um floco de cabelos
Osculado pelo vento. Alegorias…
Do agora ou nunca e do momento
Definido. Trégua impensada,
Insuspeita, no perfume alado
Da página dobrada e abandonada
Dum livro interrompido. Sinto a dor fina,
Finalmente atravessada e suave,
— Quase saudade.

Ruy Cinatti

Vigília

Paralelamente sigo dois caminhos
Abstracto na visão de um céu profundo.
Nem um nem outro me serve, nem aquele
Destino que se insinua
Com voz semelhante à minha. O melhor do mundo.
Está por descobrir. Não segue a lua
Nem o perfil da proa. Vai direito
Ao vago, incerto, misterioso
Bater das velas sinalado e oculto

Quero-me mais dentro de mim, mais desumano
Em comunhão suprema, surto e alado
Nas aragens nocturnas que desdobram as vagas,
Chamam dorsos de peixe à tona de água
E precipitam asas na esteira de luz.
Da vida nada se leva senão a melhoria
De um paraíso sonhado e procurado
Com ternura, coragem e espírito sereno.

Doçura luminosa de um olhar. Ameno
Brincar de almas verticais em pleno
Sol de alvorada que descerra as pálpebras.

Ruy Cinatti

Andante comemora o Dia Internacional da Mulher com Poesia


















É já hoje, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, que estreia o espectáculo "Elas", da Andante, que terá uma única representação.
Irá acontecer pelas 21h45, no Fórum Cultural de Alcochete.
Este espectáculo de Poesia, que terá uma duração de 50 minutos, tem o apoio da Câmara Municipal de Alcochete.
Mais informações, aqui.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Editora Labirinto assinala Dia Internacional da Mulher com a edição do n.º 2 da colecção "Afectos"


















A editora Labirinto assinala o Dia Internacional da Mulher, no próximo dia 8 de Março, com a edição de uma antologia poética.

Trata-se de um volume intitulado "Mulher" da colecção Afectos pequenos formatos, onde se reúnem 19 poemas inéditos de poetas contemporâneos: António Ramos Rosa, António Salvado, Artur F. Coimbra, Carlos Vaz, Casimiro de Brito, Daniel gonçalves, Gisela Ramos Rosa, Gonçalo Salvado, Isabel Wolmar, Isaac Pereira, Joana Rua, João Ricardo Lopes, Juliana Miranda, Laura Cesana, Maria João Fernandes, Maria do Sameiro Barroso, Maria Teresa Dias Furtado, Maria Teresa Horta e Pompeu Miguel Martins.

A antologia conta igualmente com trabalhos gráficos dos artistas Ângela Mendes Ferreira, João Artur Pinto, Júlio Cunha, Manuela Justino e Nuno Canelas.

No prefácio do segundo livro de pequeno formato da colecção Afectos, sublinha-se: "Um cântico à mulher, o reconhecimento de tudo quanto nela é partilha sublime ou generosa inspiração. Mais do que não esquecer, importa lembrar a importância do feminino na poesia, este e todos os outros gestos que nele se abrigam".

João Artur Pinto, presidente da Labirinto, acentua que este é mais um esforço da editora, no sentido de alicerçar e levar mais longe o seu papel editorial, de lembrar e celebrar a arte poética, evocando a importância e a função da Mulher na sociedade contemporânea.

Poemas em voz alta

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

5/4/1931
Fernando Pessoa

Na voz de Luís Gaspar:

quinta-feira, 1 de março de 2007

Poesia aos domingos

















No Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, durante o mês de Março, vai ser possível assistir aos recitais "Poesia aos Domingos", concebidos e apresentados por Beatriz Batarda e Bernardo Sassetti.
Nos dias 4, 11 e 18 de Março, sempre às 17h30.

4 e 18 de Março: Poesia de Adília Lopes
11 de Março: "A Viagem, um conto" de Sophia de Mello Breyner

O ingresso para cada recital custa 5 € e a bilheteira fica na Rua António Maria Cardoso, n.º 38 e está aberta todos os dias, das 13h00 às 20h00.
Tel. 21 325 76 50
Email: bilheteira.teatrosaoluiz@egeac.pt