................................A Charles Vignier
Debrucei-me esta noite sobre o teu sono.
Dormia o corpo casto sobre o lençol
E vi, como alguém que lesse, estudioso,
Ah! vi que tudo é vão sob a luz do sol!
Estarmos vivos, ó que rara maravilha,
Como o nosso organismo é flor que se dobra!
Ó pensamento que levas ao delírio!
Dorme, vá! Quanto a mim, este assombro acorda-me,
Ah, desgraça de te amar, frágil amante;
Respiras como se respira um instante!
Ó olhar fechado que à morte é igual!
Ó boca a rir em sonhos na minha boca,
À espera de outra gargalhada mais louca!
Depressa, acorda. Ouve, a alma é imortal!
Paul Verlaine
(Dantes e Outrora)
(tradução de Fernando Pinto do Amaral)
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