segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ildásio Tavares (1940-2010)


Morreu ontem, vítima de AVC, o Poeta Ildásio Tavares.
Pertencente à geração da Revista da Bahia, Ildásio publicou o seu primeiro livro, Somente um canto, em 1968. Dominando vários estilos poéticos, tinha uma particular fascinação pelo soneto, de que publicou uma selecção em Portugal (As Flores do Caos, Labirinto, 2008). A sua obra estende-se ainda ao ensaio, à ficção e ao teatro.
Foi também jornalista e académico de reconhecido mérito, tendo leccionado Literatura Portuguesa durante mais de 25 anos.


A minha amada não tem coração -
     ela tem um disquete no lugar
     que a faz nada sentir, tudo pensar,
     mobilizando tanto sua razão
que neutraliza a força da paixão.
     Ela está sempre pronta a deletar
     meu coração que vive a lhe acessar
     e jamais quer salvar a sensação.
Sem ter memória com que me resguarde
     (ela só pensa em formatar a fonte
     e minha fonte é o coração que me arde),
limitei numa tela meu horizonte
     e tudo sinto, sem fazer alarde,
     sem um programa em que meu sol desponte.

(in O prisma das muitas cores - Poesia de Amor Portuguesa e Brasileira, Organização de Victor Oliveira Mateus; Prefácio de António Carlos Cortez, Labirinto, 2010)