sexta-feira, 24 de novembro de 2006

António Gedeão

António Gedeão, (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho), nasceu em Lisboa em 24 de Novembro de 1906. Criança precoce, aos 5 anos escreveu os seus primeiros poemas e aos 10 decidiu completar "Os Lusíadas" de Camões. A par desta inclinação para as letras, ao entrar para o liceu Gil Vicente tomou contacto com as ciências e foi aí que despertou nele um novo interesse.
Em 1931 licenciou-se em Ciências Físico-Químicas pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e em 1932 concluiu o curso de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras do Porto, prenunciando assim qual seria a sua actividade principal durante 40 anos: professor e pedagogo.
Exigente e comunicador por excelência, para Rómulo de Carvalho ensinar era uma paixão e uma dedicação. E assim, além da colaboração como co-director da "Gazeta de Física" a partir de 1946, concentrou durante muitos anos os seus esforços no ensino dedicando-se, inclusivé, à elaboração de compêndios escolares, inovadores pelo grafismo e pela forma de abordar matérias tão complexas como a física e a química. Dedicação estendida, a partir de 1952, à difusão científica a um nível mais amplo através da colecção "Ciência Para Gente Nova" e muitos outros títulos, entre os quais "Física para o Povo", cujas edições acompanham os leigos interessados pela ciência até meados da década de 1970.
Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho nunca esqueceu a arte das palavras e continuou sempre a escrever poesia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que nunca seria útil a ninguém, nunca tentou publicá-la, preferindo destruí-la. Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publicou, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas "Movimento Perpétuo" com o pseudónimo António Gedeão. Continuou depois a publicar poesia, aventurando-se anos mais tarde no teatro, no ensaio e na ficção.
Nos seus poemas existe uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. Aí reside a sua originalidade, difícil de catalogar, originada por uma vida em que sempre coexistiram esses dois interesses distintos.
A poesia de Gedeão, tão comunicativa, marca toda uma geração que, reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra cujo fim não se adivinhava, se sentia profundamente tocada pelos valores expressos pelo poeta e assim se atrevia a acreditar que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade. É deste modo que "Pedra Filosofal", musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho. Mais tarde, em 1972, José Nisa compõe doze músicas com base em poemas de Gedeão e produz o álbum "Fala do Homem Nascido".
Nos anos seguintes dedicou-se por inteiro à investigação, publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Gedeão também continuou a sonhar, mas o fim aproximava-se e o desejo de morrer determinou, em 1984, a publicação de "Poemas Póstumos".
Em 1990, já com 83 anos, Rómulo de Carvalho assumiu a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, sete anos depois de se ter tornado sócio correspondente da Academia de Ciências, função que desempenharia até ao fim dos seus dias.
Quando completou 90 anos de idade, a sua vida foi alvo de uma homenagem a nível nacional. O professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta, foi reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música. O grande poeta António Gedeão faleceu em 1997.

Obra Literária:
Poesia: "Movimento Perpétuo", 1956; "Teatro do Mundo", 1958; "Declaração de Amor", 1959; "Máquina de Fogo", 1961; "Poesias Completas", 1964; "Linhas de Força", 1967; "Soneto", 1980; "Poema para Galileu", 1982; "Poemas Póstumos", 1984; "Poemas dos textos", 1985; "Novos Poemas Póstumos", 1990
Ficção: "A poltrona e outras novelas", 1973
Teatro: "RTX 78/24", 1978; "História Breve da Lua", 1981
Ensaio: "O Sentimento Científico em Bocage", 1965; "Ay Flores, Ay flores do verde pino", 1975
Obra Científica: "Ciência Hermética", 1947; "Embalsamento Egípcio", 1948; "Compêndio de Química para o 3º Ciclo", 1953; "Sr. Tompkins explora o átomo", 1956; "Guias de trabalhos práticos de Química" [3º Ciclo], 1957; "Que é a física?", 1959; "Problemas de Física para o 3º Ciclo do Ensino Liceal", I volume, 1959; "A Física para o Povo", 1968; "Ciências da Natureza",1974; "Aditamento ao guia de trabalhos práticos de Química", 1975; "A Descoberta do Mundo da Física", 1979; "A Experiência Científica", 1979; "A Natureza Corpuscular da Matéria", 1979; "Moléculas, Átomos e Iões", 1979; "A Energia", 1980; "A Estrutura Cristalina", 1980; "As Forças", 1980; "As Reacções Químicas", 1980; "O Peso e a Massa", 1980; "A Composição do Ar", 1982; "A Electricidade Estática", 1982; "A Pressão Atmosférica", 1982; "A Corrente Eléctrica", 1983; "A Electrónica", 1983; "Magnetismo e Electromagnetismo", 1983; "A Energia Radiante", 1985; "A Radioactividade", 1985; "Ondas e Corpúsculos",1985
Investigação histórica: "História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa [1765 1772]", 1959; "História do gabinete de Física da Universidade de Coimbra [1772 1790] desde a sua fundação em 1772 até ao Jubileu do Prof. Giovani António Dalla Bella", 1978; "Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII", 1979; "A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências da Lisboa nos Séculos XVIII e XIX", 1981; "A Física Experimental em Portugal no Século XVIII", 1982; "A Astronomia em Portugal no Século XVIII", 1985; "História do Ensino em Portugal, desde a fundação da nacionalidade até ao fim do regime de Salazar Caetano", 1986; "O Texto Poético Como Documento Social", 1994.

1 comentário:

Menina Marota disse...

Já aqui estive ontem e não consegui comentar.
Gostaria de lhe dar os parabéns pelo excelente artigo sobre António Gedeão, poeta que muito amiro.

Um abraço e grata por tão excelente partilha.