quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Na estante de culto







A Musa ao Espelho

PATHOS
Pequena antologia quase inédita de poesia contemporânea portuguesa

“A eternidade alcança-se quando, espreitando sobre o ombro, vislumbramos o nosso próprio rasto, os traços imperecíveis da nossa existência, sem qualquer deus como tutor. As marcas da nossa passagem, acentuam-se com os sentidos; eles são a matéria-prima de que se constitui A Musa ao Espelho. Os laços que cimentam os seus elementos e os múltiplos convidados, neste caso, os catorze dos quinze poetas que construíram a ossatura antológica, definem, por si só, o Amor, Mágico Amor de que fala A. M. Lisboa. E é nessa ambiência genuinamente construída que edificamos o nosso projecto sem ambiguidades ou cedências. Numa portugalidade preconceituosa, mesquinha, de gostos sinuosos e por vezes atávica, subimos tranquilamente os degraus de uma longa escadaria, buscando o patamar onde reside um público atento, crítico, permeável à escrita poética e musical. Não almejamos o sucesso gratuito e, muito menos, a apoteose cega e efémera; procuramos simplesmente, partilhar afectos.”
(da Nota Introdutória de José Carlos Tinoco)

Pois foi partilhando afectos que o poeta (e meu amigo) Luís Graça adquiriu, para me oferecer, este belo livro/cd/dvd no espectáculo que A Musa ao Espelho realizou recentemente na Casa Fernando Pessoa e, continuando na partilha de afectos, vos ofereço aqui um dos poemas nele incluso.
Escolhi este de Eduarda Chiote porque veio (surpresa!) autografado pela própria poetisa com uma dedicatória à minha pessoa — que deste já agradeço.
A ambos.


Cantiga de Amor

Ó rosa dos sete ventos, por sete ventos
rodada,
defende-me
dos ladrões,
dos espantos doidos,
dos ventos,
e de mim. De mim também
e dos meus ventos
chorados.

Ó rosa dos sete espinhos
e no rochedo
cravados,
limpa o mar de todo o sangue, limpa a praia marinheira
das ondas do meu
pecado.

Limpa o coração deserto e a inocência do menino
trespassada pelo vidro da garrafa
arremessada
por veleiro sobre areia
adormecida,
por soltos cabelos
de água.

Ó rosa dos sete espinhos, por sete espinhos
rodada, traz-me o frio do céu limpo,
as nuvens da trovoada,
nos olhos do meu amor
e nas ruínas
abertas
de uma casa destelhada
ó rosa dos sete estrelos, por sete estrelos
rodada,
traz contigo todo o luto
desta música
inventada
no seu boné de marujo
ou no corpo não impresso de uma nota
descuidada.

Ó rosa dos sete estrelos, ó silêncio enevoado,
leva contigo
o Poema, leva contigo
a palavra.
Leva contigo
o Poeta
numa pérola de neve
e pela dor
fustigada
ó rosa clara de morte
ó nome do meu
amado.

Eduarda Chiote

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A Musa ao Espelho é um espectáculo intenso e eclético. Os poemas são interpretados por José Carlos Tinoco, acompanhado por Juca Rocha (piano), Ianina Khmélik (violino), Vanessa Pires (violoncelo) e Fátima Santos (acordeão). Os temas compostos ou adaptados para cada um dos poemas acentuam a ambiência do texto, transportando o espectador (ou ouvinte do cd) através da uma viagem imaginária, visitando diferentes espaços físicos e emocionais.
O CD e o DVD são o resultado da gravação ao vivo do espectáculo que A Musa ao Espelho apresentou no passado dia 24 de Julho de 2006 na Casa da Música no Porto.
Muito sucesso para este belíssimo projecto, é o que desejo.

Os poetas:
Ana Luísa Amaral
António Maria Lisboa
Bénédicte Houart
Carlos Poças Falcão
Daniel Jonas
Daniel Maia-Pinto Rodrigues
Eduarda Chiote
Filipa Leal
Helga Moreira
Humberto R.
João Luís Barreto Guimarães
João Rios
Manuel António Pina
Rosa Alice Branco
Rui Lage

Uma edição da Gailivro, de Novembro de 2006.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mereces isto e muito mais!
Só tenho pena que não tenhas podido assistir ao espectáculo e convivido no final da sessão.