segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Poemas em voz alta

Na sombra Cleópatra jaz morta.
Chove.

Embandeiraram o barco de maneira errada.
Chove sempre.

Para que olhas tu a cidade longínqua?
Tua alma é a cidade longínqua.
Chove friamente.

E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto –
Todos nós embalamos ao colo um filho morto.
Chove, chove.

O sorriso triste que sobra a teus lábios cansados,
Vejo-o no gesto com que os teus dedos não deixam os teus anéis.
Por que é que chove?

Fernando Pessoa
(Cancioneiro - Episódios / A Múmia)


Na voz de Luís Gaspar:

1 comentário:

Anónimo disse...

Comecei a ler e pensei: "Eh! pá, isto é bom!".
Cheguei ao final e vi a assinatura.
Bate certo.