quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Cynthia Livro Segundo
Dórdio Guimarães
Edição do Autor, 1966







JUÍZO A GIZ

Cidade. Tapete rolante livro folhagem dossier negro
aberta noite de luzes pensar passar
avulto avulso de pés carnaduras ágeis
figurando pagens soltos passeantes de parques.
Cidade ébria de fósforos luminosa
pirotécnica de olhos de bocas silêncio.
A nuvem do desgosto em cada homem de sobretudo
preto. Tessitura de tecido duro pesado quase frágil.
Ternura tépida que chora o forro coração
agasalhado ardendo galerias insuspeitas tensas
abandono quente.
Foi isso que impeliu enormes caixas de música
à avenida dos que passeiam.
Que lhes tirou o fluido nevoento do andar.
Que nos trouxe até candeeiros azuis
de não dizerem nada.
Foi isso isso tudo que coseu os bolsos. As luvas.
Sim as luvas de pano bordadas aborrecidas
as luvas de enganarem mãos
como fendas no vestuário.
O logro talvez a alegria de mentir
hipótese de pele estranha talvez o gosto
gasto de garantir o macio maio mais amor
quem sabe se o astro cada vez mais branco
e distante ao microscópio.
Glóbulo leucémico no sangue ir
mais longe e doente Graal do amor. Amor. Que é isso?
Eu toupeira das horas tu amazona
amiga de dormidas árvores.
Ó lusíada em seu terraço- astronomia.
Sábia a lua espia!

Ambulância e uma mulher no ventre ferida.
Caramba. Foi menos um homem nascido?
Nisto o relógio pára. Amo-te. Amo-te. Amo-te!
Socorro... Ele contigo ou comigo seria parecido.
Escrevo tenazmente desde o papiro.
Longe longe longe aquele suspiro
de luz é apenas uma estrela caída.

1 comentário:

Anónimo disse...

O Dórdio que saudades. outro infamemente cada vez mais "ausente" e esquecido pelos pseudo-cânoneS histórico poéticoS . obrigado Rui pela lembrança.

pedro salvado