segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


sulscrito 3
antologia da indiferença
revista de literatura
4Águas, Junho 2010






- és poeta
perguntaste
- sou plagiador
respondi
… plagiei todos os poetas que li
e
naveguei o único poema que a(ssa)ssinei

um poema-cavalo branco que galopa as minhas veias
que ensaia estupendos saltos-precipícios
um poema-sexo-lamina-de-duas-faces
um poema-punheta
um poema-em-fuga
(foge todas as noites da minha cama para foder com outros)

- és poeta
perguntaste
e eu, esquecido de todas as lembranças, assolado pelas consternações do mapa-múndi, encalhado nas ruas de barcelona, sem música e sem geografia, sem ir à horta onde as raízes pensam e o vinho escorre por entre fábulas de almanaque… eu que não existo.

mesmo antes de estar morto, não existo.
só disse
- tu… há muito que dormes comigo, na minha cama. tudo começou muito antes de te conhecer.
muito antes de te conhecer
muito antes de te conhecer
muito antes de te conhecer
muito antes de te conhecer
muito antes de te conhecer
fui surpreendido pela arquitectura do teu corpo-prazer-ócio.
o prazer e o ócio
o prazer e o ócio
o prazer e o ócio
o prazer e o ócio
o prazer e o ócio
que ainda me mantém vivo

- és poeta
perguntaste
e eu…
só disse
- não prolonguemos as civilizações mecânicas…

a obscuridade retrocede e o ciclo das estações em salas climatizadas…

a noite e o verão perdem o seu encanto e o romper da alba está a desaparecer.
já não há espaço para o sonho.
quero descansar nas ruínas do império
enamorar-me do rio que as atravessa
casar com ele
e
passearmo-nos por entre as velhas pedras
os nossos véus de noivado (negros) serão suportados por dois adolescentes
ele de marinheiro (como gosto)
ela desnuda (como convém)

sou, todo eu, um plágio. uma janela aberta por onde transparecem milhares de imagens roubadas

premeditadamente

Manuel Almeida e Sousa

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