terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Obra II
António Salvado
A Mar Arte, 1997







Emigrantes


As raízes navegam pelo sangue
das rudes cores dum alvor sem brilho:
húmus de sol em traços de distante
e a noite a prolongar-se nos declives.

O côncavo das mãos ganhou a forma
do rio incerto a suplicar o mar:
nas pupilas do longe se constrói
uma tristeza irmã da madrugada.

Talhados em granito e solidão,
dos matizes da estrada percorrida,
confluem sós na luz interior
que os emigrou em sonhos derruídos.

3 comentários:

casa da poesia disse...

J'appelle Anna, mon rubis...


Salut!

Anónimo disse...

Três palavras sobre António Salvado
Por Nicolau Saião

Há, neste acervo, um verso que a meu ver descreve com exactidão o mundo da escrita de António Salvado: “só a natureza purifica os sons”, diz ele a dada altura no poema dedicado a Claudio Rodriguez. (Claudio Rodriguez, sublinho, ou seja: um dos poetas europeus onde a natureza se confrontou decisivamente com os sons duma modernidade assumida, reencaminhada nos troços vicinais de um continente que não perdera de vista a claridade da Grécia mas sabia ser impossível não a tentar reconverter através do mergulho achado em Rimbaud e Dylan Thomas).

Poeta da natureza, António Salvado? Sim, mas também da linguagem que a certifica, perpassa e ultrapassa...

http://www.triplov.com/novaserie.revista/numero_04/antonio_salvado/index.html

Pat. disse...

Especial demais meu querido!

Mas o que me deixa flutuar aqui no blog é o que ouço ao entrar... que voz linda...e palavras únicas!

Um beijo especial com muito carinho e admiração.