segunda-feira, 5 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Obra Poética
Afonso Duarte
Iniciativas Editoriais, 1956







Invernia

Aos destinos do Céu cai chuva e bruma:
Trá-las um vento ríspido da Barra!
E é uma praga, meu Deus, se o tempo agarra,
Miséria e dor, se a chuva não arruma!

Pelo ar vão núncios tristes de cegonhas:
Fantasma e agoiro aos arrepios torvos!
Baixam à Terra, atlântidas medonhas,
As grandes nuvens negras como corvos.

Meu Deus! Nem grão, nem palha nos moroiços!
O aol arranca em lívidos desmaios
E o vento põe meu coração aos dobres.

E os aldeões, as vozes rudes, oiço-os
A insultos bárbaros à Vida: Raios!
Com tempo assim o que há-de ser dos pobres...

1 comentário:

Nuno Dempster disse...

Um dos "meus" poetas, aqui com tons simbolistas.