Caros etéreos,
Como sabem, no último passatempo o mote era a palavra "Memórias" e os primeiros 6 participantes que enviassem os seus poemas receberiam um exemplar do livro “Marcas ou memórias do Vento”, de Maria Paula Raposo.
Assim sendo, os participantes mais rápidos que receberão exemplares deste livro são:
1. Amadeu Baptista
2. Andreia Silva
3. Fernando de Jesus Ferreira
4. João Tomaz Parreira
5. António José Queirós
6. mariam
Eis todos os poemas participantes, pela ordem que chegaram:
SONETO EXPOSTO
(ou uma certa ideia de memória do país)
O desengonçado trânsito cavernícola.
A eterna crise com os dentes afiados.
Um país de paisagens marítimas e vinícolas,
em que uns são filhos e outros enteados.
O recorte da serra na distância.
Os pardais semoventes sobre as praças.
Alguns homens sombrios com a ânsia
de não serem roídos pelas traças.
O redil organizado como um caos.
Uns quantos menos bons e outros muito maus.
Uma planície, uma cidade, um chaparral.
E em volta disto o mar, sempre indiferente
do que queira ou não queira a sua gente.
E fica no soneto exposto Portugal.
Amadeu Baptista
***
Passado
O passado é passado
E já passou…
O amor era uma rosa
Que caiu
E murchou…
O passado
Que passou
Nos entretantos
E nas entrelinhas
Foi passado
Entre prantos
E mágoas minhas!
E se o passado é passado
Atrás não volta mais
Por isso o olhar é para a frente
Para encarar coisas reais…
Andreia Silva
http://segredos_escondidos.blogs.sapo.pt
O passado é passado
E já passou…
O amor era uma rosa
Que caiu
E murchou…
O passado
Que passou
Nos entretantos
E nas entrelinhas
Foi passado
Entre prantos
E mágoas minhas!
E se o passado é passado
Atrás não volta mais
Por isso o olhar é para a frente
Para encarar coisas reais…
Andreia Silva
http://segredos_escondidos.blogs.sapo.pt
***
No segredo do degredo
a voz ecoa nos interstícios da fonte
onde tudo se esconde
o mar perece
e o amor esquece
Fernando de Jesus Ferreira
***
EXPERIMENTO VER-ME COM OS OLHOS
Experimento ver-me com os olhos
de minha mãe, ela pode amamentar-me
pode medir-me e ver que não cresceu
o meu corpo, pode censurar
meus olhos mineiros
que procuram poesia
e dizer - filho, os teus olhos
estão mais magros -
Tento ver-me com os olhos
de minha mãe, podem chorar
com as minhas lágrimas
Mas eu não me alcanço
como ela faz todos os dias.
João Tomaz Parreira
http://www.poetasalutor.blogspot.com
***
Praia da Memória
Regresso ao lugar onde o tempo adormeceu,
ao enigma de um mar parado, quase triste.
Lá longe avisto um obelisco que resiste
como símbolo de uma ideia que venceu.
É Inverno mas o sol queima. Nada existe
que faça escurecer o dia como breu.
Vem-me à ideia a história antiga de Orfeu
e a saudade que em mim ficou quando partiste.
Na música que ouviste não pressenti
os incertos andamentos da sinfonia
que pouco a pouco te deixaram perturbada.
Mas nessa tarde em que, enfim, te conheci
julguei que o tempo finalmente acordaria
para que o sol brilhasse em plena madrugada.
António José Queirós
***
Memórias d'Outono
Naquela geometria de paredes desamparadas
Restam heróicos alguns empilhados de pedra
Ainda exalam misturas de cheiros e palavras
Memórias simples de sabores e saberes feitas
Encavalitados nos joelhos do pai ou do avô
Que quedos pediam estórias de lobisomens
De medos e de bruxas que nuas dançavam ao luar
Do arrepio na lembrança dos sons da noite lá fora
No canto ouvia-se em surdina o canto da tia-avó
Entre aromas de mosto e castanhas assadas no lume
E malgas que a mãe enchia de perfumado doce abóbora
Do leite de cabra e das carquejas acabadas de trazer
Pequenas e orgulhosas as mãos arranhadas nos silvados
Comiam de manhã amoras frescas e bagos de romã
São belos os Equinócios mas jamais serão os mesmos...
mariam
http://www.mariasentidos.blogspot.com
Naquela geometria de paredes desamparadas
Restam heróicos alguns empilhados de pedra
Ainda exalam misturas de cheiros e palavras
Memórias simples de sabores e saberes feitas
Encavalitados nos joelhos do pai ou do avô
Que quedos pediam estórias de lobisomens
De medos e de bruxas que nuas dançavam ao luar
Do arrepio na lembrança dos sons da noite lá fora
No canto ouvia-se em surdina o canto da tia-avó
Entre aromas de mosto e castanhas assadas no lume
E malgas que a mãe enchia de perfumado doce abóbora
Do leite de cabra e das carquejas acabadas de trazer
Pequenas e orgulhosas as mãos arranhadas nos silvados
Comiam de manhã amoras frescas e bagos de romã
São belos os Equinócios mas jamais serão os mesmos...
mariam
http://www.mariasentidos.blogspot.com
***
Memória serena
Ali, naquele sofá de couro,
está uma memória sentada.
Não é fantasma, é memória,
doce e serena como a luz do luar,
como o rio que desliza mansamente para o mar.
A mão, já enrugada,
pousa no braço do sofá de couro,
lá onde está marcada a mão real,
tantas vezes pousada.
Doce é o sorriso, profundo o olhar.
Na gola do casaco imaginado,
um alfinete de ouro com o nome gravado.
Ali, na memória sentada no sofá de couro.
Regina Gouveia
http://www.docaosaocosmos.blogspot.com
***
Otium
Vejo essa mesa glabra de processos;
quinquilharias aí estão. Nonadas.
Vêm-me à memória todos meus sucessos.
Tão poucos ante as teses derrotadas.
Lá na parede, alguém com quem pareço
remotamente. Não fossem os cabelos,
negros e bastos, de que já careço,
e o retratado faz questão de tê-los.
Dormem na estante livros de Direito.
Pó do desuso vai-se acumulando.
O leigo julga tudo eu sei de cor.
Cabeça altiva, sem mágoas no peito,
o meu sossego fui recuperando.
Bacharelices? Never, never more.
Adauto Suannes
http://www.circus-do-suannes.com
***
a infância que não foi a tua
mundo de aventuras
de leituras desenfreadas
em luta contra o tédio
das doenças de cama
na segunda infância,
essa em que a imaginação
se torna o vulcão de toda
a solidão. não foram amigos
teus os cavaleiros da távola
ou da triste figura (catorze
anos mearam a mudança
das feições, como hoje, tantas
vezes a boca, de gôndola, se arqueia
no teu rosto de lua cheia).
nada disso foi teu,
tiro aos pássaros,
saqueamentos a árvores de fruto
mergulhos suicidas de rochas
ou de chaminés de barcos
destroçados, o medo e o amor
sempre te impediram os altos voos
de Ícaro. não és melhor
nem pior pessoa por falta
dessas memórias e não choras
pela infância que não foi a tua.
Fernando Machado Silva
http://donnemoimachance.blogspot.com
***
GOSTO TANTO...
Gosto tanto de ser partilha...
Memórias de tempos
Som...tacto...
E ouvir o sorrir d'alma
No teu som ...no teu tacto...
De uma vida
De um caminhar
De um sorrir
De um amar...
Som...tacto...
E ouvir o teu tacto silêncio...
De um querer
De um dizer
De um almejar
De um amar...
Som...tacto...
E sentir o teu amor...no meu som...
No unir
No conseguir
No alcançar
No amar...
Som...tacto...
E ouvir o sorrir d'alma
No teu som...sorriso do teu tacto...
Memórias de tempos
De facto!
José Luís OUTONO
http://pretexto-classico.blogspot.com
***
Na calma do rio…
Observo a calma ondulação do rio…
…enquanto tenho como céu frondosas árvores.
Sentada e quieta…
…aqui neste pequeno penedo,
lembro-me de amores passados…
e de bem-quereres presentes.
De ti…
…recordo aqueles momentos felizes,
vividos com a intensidade…
…de um raio de Sol ao meio-dia!
Anabela Braga
***
MEMÓRIAS
Memórias são retalhos de ilusão
A chama de um passado inda presente;
Saudade a inundar a nossa mente
Mergulhos que se fazem, de emoção;
São mágoas, são amor, recordação
São lágrimas por quem ficou ausente;
Vitórias conquistadas e que a gente
Conserva com carinho, com paixão;
É encurtar na mente essa distância
Que vai do homem velho à sua infância
É condensar a vida num segundo.
Olhar a feitos de quem já se foi...
E ver que a todo o tempo se constrói
Querendo, com amor, um melhor mundo.
Joaquim Sustelo
***
todas as noites restituo ao silêncio as rosas do teu corpo:
nenhuma estrela acende esta casa tão alta
onde escondemos palavras envergonhadas
em lençóis de solidão.
saímos vulneráveis e nus
para os ombros da luz com o choro das aves nocturnas
a revelar as mãos retalhadas da sua imobilidade.
envelhecemos, quase sempre, na perturbação comum dos pássaros
quando as memórias do pólen os confunde.
à porta - no estilhaço da claridade
a voz cai, estranhamente nítida
quando o corpo se dobra à origem da palavra
e nos perguntam: porque morrem as rosas?
Luísa Henriques
http://maresdeespanto.blogspot.com
***
És a palavra fechada num silêncio de ouro,
a redescoberta egoísta de uma saudade sem fim,
dos tesouros perdidos de uma memória pequena,
muito pequena, para a guardar.
O teu silêncio assumido penetra todos os espaços,
que eram os teus,
os das palavras loucas,
que falam só para elas,
numa recordação intacta.
Raquel Lacerda
www.asinhasdefrango.blogspot.com
***
A memória do nome
......................................Como se fosse assim pensar
......................................ser dono de uma árvore
......................................e não ser dono de nada.
......................................Álvaro Alves de Faria
......................................ser dono de uma árvore
......................................e não ser dono de nada.
......................................Álvaro Alves de Faria
Esmaga em prensas de laje os golfos do nome
dir-se-ia um nome de larva ou sílaba azeitada
e o corpo está enrijado como Jesus a prumo
ser imponderável revestido de folhas brancas,
sob o arco da língua retesada a crosta surda
esta boca imunda em torrente aberta esta tribo
e o fogo nas mãos como soldas no centro do ar
o ritmo asfixiante do verbo o hálito sangrento,
toda a cegueira da sombra das liras espiando
toda a rasura das raízes do lugar das fábulas
ó bem amado nome diluído na refracção do eco.
João Rasteiro
http://www.nocentrodoarco.blogspot.com
***
Fintava tudo o que lhe aparecia:
Fintava tudo o que lhe aparecia:
as dunas, os astros, os versos…
todas as manhãs pintava o sol;
ora de branco, ora de preto,
erguia-se cedo, ouvia os búzios,
e cumprimentava as gaivotas.
Seguia alinhado a uma luz suave
desvanecendo-se no imenso vácuo.
As sombras, inacessíveis protagonizam
bailados castrantes com vestes negras,
que cegam o imergir da luz.
Vidas inocentes do real mundo
esse, em que se morre ao nascer,
recreiam-se na areia por entre as rochas
aguardando a visita dos crustáceos.
José M. Silva
http://esquicospoeticos-avlisjota.blogspot.com
***
Fala-me
Fala-me do fumo
Fala-me do sono e dos sonhos
e da ausência.
Fala-me do Mundo
Enquanto sonho
Enquanto tento sonhar
Fala-me de ti
de nós...
Sonhemos juntos.
Caminhemos pelo traço de fumo
Enchamos o peito de céu
e a alma de nuvens
até que deixem de chover os olhos.
.........................................abraça-me a paixão.
Diogo Jacinto
http://www.gritos-moont.blogspot.com
***
as mãos hesitam sobre a cidade
uma vida inteira
....................dentro de um livro:
bilhetes de comboio,
o primeiro beijo,
joelhos esfolados
um verão inteiro,
a pele que teima
em envelhecer,
os amigos, os pais,
os avós e o confronto
com a inevitabilidade
das coisas,
......a nudez
de um corpo
..............noutro
e dezenas de fotografias
onde já não me reconheço,
sem qualquer réstia de memória
ou lembrança:
a tua voz nas entrelinhas
........e o pó contínuo
de não estares
.........................aqui.
João Coelho
***
Memórias
No tempo se dilui,
Tudo aquilo que a mudança,
E o progresso transforma -
A matéria,
A realidade,
Até mesmo o sonho,
Nada permanece inalterável.
À medida que o tempo passa,
Soma-se a nós,
A consciência do efémero.
Contudo, algo não se dissolve,
Passe inexorável o tempo,
Por ti,
Por mim,
Ou de permeio, por nós.
Tudo aquilo que somos,
Que a ele não alienamos,
Aquilo que ninguém nos confisca,
Enquanto assim o não queremos.
A razão,
A consciência,
O género,
Que Deus nos ofereceu por inteiro,
Que é nosso único património
Desde que não nos consintamos viver,
Amarrados à ideia de fim,
Ao tempo,
Nós não nos entregamos,
Nem sequer a alguém em pleno,
Com autenticidade.
A memória do somatório que fomos,
Os sentimentos,
As paixões,
As convicções,
As esperanças,
A nossa luta,
O acto em potência daquilo que queremos,
A vida que em nós festejamos,
Não a reneguemos por um segundo,
Tesouro não partilhado,
Pertença apenas nossa,
É tudo aquilo,
Que o passado em nós já escreveu.
Mergulhados no quotidiano,
Às vezes quase submersos,
Nadando pelo mar da vida,
Até que os nossos braços se cansem,
Vestindo a alma com o único corpo que temos,
E que assumimos por inteiro.
Saibamos abrigarmo-nos das tempestades,
Mesmo por entre as brechas do coração,
Escavadas pelos ventos do infortúnio.
Olhemos o Mundo, sem receio
Transformando as lágrimas num sorriso,
Somaremos vitórias contra o destino
Até que o abraço de um anjo,
De forma meiga e suave nos leve,
Desta breve passagem terrena,
Quem sabe se assim não chegaremos,
A viver num outro tempo sem memória,
Sem a ideia de princípio, nem termo,
Numa forma para nós ainda desconhecida?
Estranha alegoria…
Beatriz Barroso
No tempo se dilui,
Tudo aquilo que a mudança,
E o progresso transforma -
A matéria,
A realidade,
Até mesmo o sonho,
Nada permanece inalterável.
À medida que o tempo passa,
Soma-se a nós,
A consciência do efémero.
Contudo, algo não se dissolve,
Passe inexorável o tempo,
Por ti,
Por mim,
Ou de permeio, por nós.
Tudo aquilo que somos,
Que a ele não alienamos,
Aquilo que ninguém nos confisca,
Enquanto assim o não queremos.
A razão,
A consciência,
O género,
Que Deus nos ofereceu por inteiro,
Que é nosso único património
Desde que não nos consintamos viver,
Amarrados à ideia de fim,
Ao tempo,
Nós não nos entregamos,
Nem sequer a alguém em pleno,
Com autenticidade.
A memória do somatório que fomos,
Os sentimentos,
As paixões,
As convicções,
As esperanças,
A nossa luta,
O acto em potência daquilo que queremos,
A vida que em nós festejamos,
Não a reneguemos por um segundo,
Tesouro não partilhado,
Pertença apenas nossa,
É tudo aquilo,
Que o passado em nós já escreveu.
Mergulhados no quotidiano,
Às vezes quase submersos,
Nadando pelo mar da vida,
Até que os nossos braços se cansem,
Vestindo a alma com o único corpo que temos,
E que assumimos por inteiro.
Saibamos abrigarmo-nos das tempestades,
Mesmo por entre as brechas do coração,
Escavadas pelos ventos do infortúnio.
Olhemos o Mundo, sem receio
Transformando as lágrimas num sorriso,
Somaremos vitórias contra o destino
Até que o abraço de um anjo,
De forma meiga e suave nos leve,
Desta breve passagem terrena,
Quem sabe se assim não chegaremos,
A viver num outro tempo sem memória,
Sem a ideia de princípio, nem termo,
Numa forma para nós ainda desconhecida?
Estranha alegoria…
Beatriz Barroso
***
À SOMBRA DA FIGUEIRA
À sombra da figueira,
Ouvi histórias e contei histórias.
Olhei o tempo e brinquei no tempo.
Ri, chorei, cantei e amei;
E gostei… a sério que gostei.
Ali, fui amigo e fiz tantos amigos,
Dos que perduram em minha vida.
Tornei-me aprendiz mas também sabedor,
E partilhei…
Partilhei muitas experiências e vivi imensas emoções,
E gostei… a sério que gostei;
À sombra da figueira,
Daquela figueira que agora me oferece doces lembranças.
Luis da Mota Filipe
À sombra da figueira,
Ouvi histórias e contei histórias.
Olhei o tempo e brinquei no tempo.
Ri, chorei, cantei e amei;
E gostei… a sério que gostei.
Ali, fui amigo e fiz tantos amigos,
Dos que perduram em minha vida.
Tornei-me aprendiz mas também sabedor,
E partilhei…
Partilhei muitas experiências e vivi imensas emoções,
E gostei… a sério que gostei;
À sombra da figueira,
Daquela figueira que agora me oferece doces lembranças.
Luis da Mota Filipe
***
A quietude que de pronto cobre o passado
reduz-nos constantemente a existência
ao provisório fio do presente, distanciando-nos
de nós próprios, porque somos o quem em um tempo
vivemos e por isso vivemos de sombras.
Não entendemos bem o motivo de nos mantermos de pé,
apesar do peso da memória no presente.
Os sentimentos, a sabedoria, tudo o que construímos
desvanece-se quando alcançado, sem rumor,
deixando-nos sós no instante preciso
em que a existência se poisa no tempo e no mundo
sendo nós possuidores, apenas, da memória vaga
do que fizemos e a aflitiva liberdade de escolher
entre diferentes formas de chegar ao silêncio.
Rui Tinoco
***
Alegres memórias
Ainda ontem era criança
E via o teu rosto de adulto
Ainda ontem era criança
E via os teus anos a passar
O teu corpo a curvar
O teu olhar a brilhar.
Ainda ontem era criança
Ouvia os telefonemas
A anunciar a tua visita
E meus olhos alegres
Se enchiam de felicidade
Ainda ontem era criança
Já ai me preocupava
Quando a minha casa chegavas
Com cheiro de café
Ainda hoje sou criança
E há pouco senti vontade
De me lembrar do quanto criança fui
De pensar em ti elegante
A ires passear para a feira
Ainda ontem te vi vivo
E hoje em ti vivo penso
Porque vivo permanecerás para sempre…
Guadalupe Paraíba
***
Memórias estão aqui
......................................Recordando-te:
......................................“Em que lugares, em que salões”
......................................Rafael Sanchez
Em que tempo e com quem estão
Minhas promessas de amor,
Meus sonhos, a glória, meus dias
E vestes, o meu vôo de condor?...
No passado, na memória,
No tempo bem vivido ontem?
Estão numa outra eternidade
Que resguarda todas as vidas.
Estão na recordação de todos
Que juntos contribuíram
Fazendo os momentos lindos
E por lembranças reuniram.
Guardados da minha vida
Estão aqui em meu corpo
Atos e fatos, a realidade vivida
Nas gavetas da memória.
Nossas vidas, de momentos
E momentos reunidos,
Estão escritas no livro infinito
Que resguarda os tempos idos.
E nos será lido no acerto dos dias.
Célia Lamounier de Araújo
http://www.celialamounier.net
***
Para onde me levam os penedos da memória?
Para onde me levam os penedos da memória?
Sentado neles por tempos, que me trazem…
Estas histórias que desenrolo, irrompem da verdade
Ou trazem jardins labirínticos de encanto?
Não sei se o que recordo
É o que a memória quer
Ou as portas que a felicidade, essa mula, trancou.
Estamos presos a vidas que não vivemos,
Recordamos o sono em que tivemos despertos
E o amor que nunca caiu de raiz no nosso corpo?
Para onde me levas
Veredas sangrentas de carne
Ou escarpas luminosas encantatórias?
Para onde, para onde…
Carlos Teixeira Luis
http://verderude.blogspot.com
***
A CASA DE MEU AVÔ
No almanxar em frente da casa
os figos tomam o sabor do sol
voltejam abelhas rutilantes
os relógios pararam ao meio-dia
bebo a água da cisterna
como quem bebe a chuva
os olhos do meu avô têm a cor do futuro
quando lança à terra
uma mão-cheia de trigo
seguro entre os dedos
um favo de mel
enquanto a infância me desliza na memória
Leonilda Cavaco Alfarrobinha
***
MELANCÓLICA
Em dias como este, o tempo fica estagnado,
estrangulado, suspenso,
à espreita.
Dele próprio, de mim...não sei...
Não gosto de dias como este,
porque fico melancólica e
incapaz de pensar,
de ver o lado cómico da vida,
de rir alto.
Eu que até gosto de rir alto,
de rir até às lágrimas.
Sinto-me mais livre,
mais leve,
irresponsável mesmo.
Mas há memórias,
há vozes do passado
que não esqueço,
em que o meu riso feliz
se volta a fechar.
Tudo desaparece e eu própria
me sinto desaparecida.
Marta Vinhais
http://www.amartaeeu.blogspot.com
***
Fecho os olhos e mergulho no passado
As flores que enchem os caminhos
Brotaram de sementes esquecidas
Que o vento um dia guardou
Fecho os olhos e sinto a aragem
A que nos acariciou e não nos esqueceu
E sabe todas as histórias
Que a memória se recusa a revelar
Deixo-me arrastar no turbilhão do vento
E na música das folhas na leveza dos aromas
Descubro as palavras mágicas
Que revelam onde o passado se esconde.
João Caldas
http://olhareserrantes.blogspot.com
***
Finalmente, o poema que foi escolhido para ser gravado em audio pelo locutor/diseur Luís Gaspar:
SONETO EXPOSTO
(ou uma certa ideia de memória do país)
O desengonçado trânsito cavernícola.
A eterna crise com os dentes afiados.
Um país de paisagens marítimas e vinícolas,
em que uns são filhos e outros enteados.
O recorte da serra na distância.
Os pardais semoventes sobre as praças.
Alguns homens sombrios com a ânsia
de não serem roídos pelas traças.
O redil organizado como um caos.
Uns quantos menos bons e outros muito maus.
Uma planície, uma cidade, um chaparral.
E em volta disto o mar, sempre indiferente
do que queira ou não queira a sua gente.
E fica no soneto exposto Portugal.
Amadeu Baptista
Obrigada a todos pela participação. Obrigada ao Luís Gaspar.
E... até ao próximo passatempo.
....................
Relembro que este "espaço aberto" é um espaço de tertúlia e não de alguma espécie de competição. Para isso existem os concursos literários, com júris e prémios monetários.
A vossa participação nestes passatempos deve ser sempre na óptica da partilha, da sã convivência, para divulgarem o que escrevem. Por isso vos agradeço a forma como têm participado nestes passatempos.
Os participantes que recebem livros, são apenas os que foram mais rápidos a enviar as colaborações.
4 comentários:
Muito obrigado...pelo excelente exemplo de partilha...onde me sinto bem...partilhar e conviver...com a minha escrita.
Até ao próximo desafio...
Um abraço
José Luís OUTONO
Obrigado, mais uma vez... e mais uma vez li um belo e variado livro de poesia desta vez com o tema das memórias.
Grande poema o de Amadeu Baptista...
Inês e Rui, belo trabalho...
Um grande abraço.
Cheguei agora de férias.
Gostei de ler os poemas. Parabéns a todos e um obrigada à Inês, ao Luís e à Paula Raposo.
um sorriso :)
mariam
errata: 'Inês e Rui,...' :)
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