quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


A Estrada e a Voz
Orlando da Costa
«Cancioneiro Geral», Centro Bibliográfico, 1951







AS MÃOS E AS MÃOS


A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira
Espero-a inteira
Como frutos à beira
Da fome de alguém
Espero-a inteira
Nesta fome que vem
Só das tuas para as minhas mãos

Minhas mãos geladas
Minhas mãos suadas
Em rebentos de cada esforço
Descarnadas mãos
De que já riu a ferrugem das grades

Minhas mãos abertas para que creias
Mãos suadas e novamente suadas
Mãos capazes de enxertar veias

A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira inteira

Sem comentários: