terça-feira, 15 de junho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia

só à noite os gatos são pardos
textos inéditos de autores contemporâneos
Organização: Jorge Velhote e Patrícia Pereira
Ilustrações: Ricardo Ayres
Cantinho do Tareco, 2009




Os gatos da minha mãe

Os gatos da minha mãe caminham
sobre as margens das coisas simples.
Não vão à praia. Sinalizam
a preguiça invadindo silenciosos
o regaço das visitas. E escutam,
privilegiados, obscuras conversas
sobre desnecessidades ou
invasivas devassas alheias.
Olham soberanos o nosso
olhar onde passam
obrigatórios como sombras
ou luz – e quando regressam
com passinhos de veludo
dos seus desvairados lugares
traduzindo a nossa ignorância
instauram a evidência, o conhecimento
fortuito, os limites imputáveis
à ternura com que, sedosos
e felinos, se deixam afagar.

Apenas não arborescem.

Jorge Velhote

1 comentário:

Nivaldete disse...

Passei 'por acaso', gostei, voltarei. Um grande abraço!