quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


As Vindimas da Noite
Maria do Sameiro Barroso
Labirinto, 2008








Chuvas de Maio


O corpo (a pele e o silêncio) lavram-se nesse ritual
puríssimo de árvores, astros, sombra,
como misterioso ardor, pungente enleio
que surge pelo jardim, pelos dedos,
pelo mantel de estrelas, pelas árvores de cerâmica,
totem de derramadas turquesas,
sítio onde as aves iniciam o ciclo da relva,
a água, o verde.

Numa cerejeira inesperada, os lilases vestem-se
de negro, os girassóis adormecem,
e os ciclos flutuam, na prata antiga, na noite obscura,
na palavra veemente onde os relâmpagos ardem.

Nas sombras de açafrão, os fios do tempo
anunciam as varandas do sol, a terra, as sementes,
os pigmentos que fabricam as umbelas verdes,
as artérias de jade percorrendo o céu, o barro,
o céu preenchendo o ventre salgado das plantas,
dos peixes,
as máscaras recolhendo, no feitiço dos sonhos,
a distância que cobre os braços, as folhas,
as rotas do vento, o oiro antiquíssimo,

a pureza inicial.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um beijinho para a Maria do Sameiro do admirador p. salvado