quarta-feira, 12 de maio de 2010
Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia
Chão de Papel
Maria Estela Guedes
Apenas Livros, 2009
A Praça
Ias à Praça – relíquia verbal do antigo nome
Da Praça de S. José de Bissau —
Com as casas de sobrado e varanda
De madeira pintada de azul-mantenhas:
– Cuma di corpo? E bo papé? E bo mamé?
Tens um objectivo em mente, o Mercado Municipal,
E um local preciso aonde vais em sonhos.
Que queres tu comprar? Sabes que é coisa
De comer, mas o quê? A vagem branca
E azeda de tamarindo? Castanha de caju?
Volta e meia sonhas com isso
Mas ainda não descobriste o que vais tu
Comprar à Praça com as suas casas de sobrado
E varanda de madeira pintada de azul-mantenhas.
Por baixo as lojas de varejo
– Ali o estúdio fotográfico do pai do Erasmo,
Além o Silva relojoeiro
Aqui a Casa Pintozinho –
A velha escola onde estudaste
Encostada a um majestoso mangueiro
E na esquina, instalada no chão com o fogareiro
A gorda Nha Tilda torrava mancarra
Que comíamos ainda quente
A cheirar a vida airada e a gente de barriga cheia.
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