segunda-feira, 1 de março de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Antologia Poética
Gabriela Mistral
Selecção e tradução de Fernando Pinto do Amaral
Teorema, 2002







Primeiro Soneto da Morte

Desse gelado nicho onde homens te puseram
hei-de tirar-te e pôr-te em terreno soalheiro.
Que nela hei-de dormir os homens não souberam
e havemos de sonhar no mesmo travesseiro.

Hei-de deitar-te então no terreno soalheiro
com a doçura da mãe prò filho adormecido,
e a terra há-de ser suave como um berço inteiro
ao receber-te o corpo de menino ferido.

Depois vou esfarelar a terra, o pó das rosas,
e ao luar, na poalha azulada e futura,
irão ficando presos os leves destroços.

Vou-me afastar cantando vinganças gloriosas,
porque nenhuma outra mão nessa fundura
poderá disputar-me o teu punhado de ossos!

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