sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Quinze Poetas Aztecas
[antologia poética]
Tradução de José Agostinho Baptista
Assírio & Alvim, 2006






As flores e os cantos

Do interior do céu vêm
as belas flores, os belos cantos.
Desfeia-os a nossa ansiedade,
a nossa invenção deita-os a perder,
a não ser os do príncipe chichimeca Tecayehuatzin.
Com os seus, alegrai-vos!

A amizade é chuva de flores preciosas.
Brancos tufos de plumas de garça,
entrelaçam-se com preciosas flores vermelhas:
nos ramos das árvores,
debaixo delas andam e libam
os senhores e os nobres.

Vosso belo canto:
um dourado pássaro cascavel,
muito formoso o elevais.
Estais numa cerca de flores.
Sobre os ramos floridos cantais.
Acaso serás tu uma ave preciosa do Dador da vida?
Acaso falaste com o deus?
Tão depressa como vistes a aurora,
os pusestes a cantar.

Que se esforce o meu coração, que queira,
as flores do escudo,
as flores do Dador da vida.
Que poderá fazer o meu coração?
Em vão chegámos,
brotámos sobre a terra.
Só assim hei-de ir-me
como as flores que morrerão?
Nada restará do meu nome?
Nada da minha fama aqui na terra?
Ao menos flores, ao menos cantos!
Em vão chegámos,
brotámos sobre a terra.

Gozemos, oh amigos,
que haja abraços aqui.
Agora andamos sobre a terra florida.
Ninguém aqui acabará
com as flores e os cantos,
eles perduram na casa do Dador da vida.

Aqui na terra é a região do momento fugaz.
Também é assim no lugar
onde de alguma maneira se vive?
Aí nos alegramos?
Aí existe amizade?
Ou apenas aqui na terra
viemos conhecer os nossos rostos?

Ayocuan Cuetzpaltzin
(segunda metade do século XV - princípios do século XVI)

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