Um cedro (persistente
aqui ao lado, como duração,
simbólica mentira,
aqui ao lado quase
ao massajar das mãos –
e há pombos, pombas, rolas e pardais,
que se acoitam ordeiros nas ramagens,
por vezes gritam mas não sei porquê)
comigo vai mantendo
uma conversação
de variados tons
sobre a vida e a morte,
as origens e os fins,
e surpresos ficamos no diálogo
cheio de reticências (na ausência
de afirmações cabais, d’indubitáveis
verdades insuspeitas) e alargamos,
enquanto, fascinados, nos unimos,
em mera sílaba pronunciada
a certeza do efémero.
António Salvado
Odes, Caixotim, 2009
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