A minha alma é uma cave na Praça da Alegria
como uma boneca de cetim à volta da meia-noite
assediada por um Duque e por um Monge
Apenas o Dr. Jazz sabe a receita certa para ela
com muito mais sax tenor do que odor de sexo
para a Lady sofisticada que tem o tempo nas mãos
Ouços os meus passos em três por quatro
na Rua do Golfinho Verde sorridente
que canta os "blues" nas folhas do Outono
A minha alma fuma "Gauloises" sem filtro
viaja num comboio azul sem paragens
e geme sem queixas no silêncio da noite
É como um contrabaixo deprimido
de braço dado ao violino de Grapelli
num beco sujo dos desgostos pizzicatos
Debaixo dos céus enevoados de Paris
a bruma tem o sabor das aguardentes
que jogam um sábio xadrez na madrugada
Todas as caves têm a meiguice no olhar
tão certo como as trompetes do Estio
doarem o musgo das carícias em Django
A minha alma é um suplício de ternuras
ansiosa por um oceano de pianos de cauda
no preto e branco dos nossos fados tristes
Luís Graça
26 de Novembro de 1999
(Poema dedicado ao Hot Clube, publicado na revista de poesia Viola Delta (número XXVIII), número especial sobre "música/musicistas, músicos".)
1 comentário:
VALE!!!...
"toldam-se os ares,
murcham-se as flores:
morrei amores,
que Inês morreu."
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