sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Cantigas da Inocência e da Experiência
William Blake
Tradução de Manuel Portela
Antígona, 2ª edição 2007








O Menino Negro


Minha mãe deu-me à luz no clima austral,
Sou negro, sim, mas oh!, minh' alma é branca.
Branco como anjo é o menino inglês:
Mas eu, qual breu sem luz, de negra tez.

Sentados debaixo de uma árvore
Antes que o calor se fizesse ardente,
Minha mãe pegou-me ao colo, beijou-me
E disse, apontando para oriente:

Olha o sol a nascer: ali Deus mora,
E dá luz e calor a toda a gente,
Aos bichos, aos homens, a toda a flora,
Faz-lhes o dia elegre, a manhã quente.

Somos postos aqui por breve nada,
Pra suster do amor os fortes raios.
Este corpo negro, a cara queimada,
São como nuvem, ou sombra na mata.

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