Faz hoje 2 anos (26 de Novembro de 2006) que Mário Cesariny de Vasconcelos nos deixou, desaparecendo assim uma das mais importantes figuras da arte e literatura portuguesa e um dos fundadores do movimento surrealista português.
Lembremos o poeta, surrealista e tudo!
O navio de espelhos
O navio de espelhos
não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
E no mastro espelhado
uma espécie de porta
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
Mário Cesariny
Vídeo:
Realização: José Pinheiro
1997 Portugal
Música: Rodrigo Leão, Gabriel Gomes e Francisco Ribeiro
Produção: Latina Europa
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