quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Foi há 2 anos...

Faz hoje 2 anos (26 de Novembro de 2006) que Mário Cesariny de Vasconcelos nos deixou, desaparecendo assim uma das mais importantes figuras da arte e literatura portuguesa e um dos fundadores do movimento surrealista português.
Lembremos o poeta, surrealista e tudo!



O navio de espelhos

O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo

Mário Cesariny

Vídeo:
Realização: José Pinheiro
1997 Portugal
Música: Rodrigo Leão, Gabriel Gomes e Francisco Ribeiro
Produção: Latina Europa

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