sábado, 7 de junho de 2008

Na estante de culto

Nas Margens do Sar
Rosalía de Castro
Tradução de José Carlos González
Editorial Diferença, 1999

A poetisa galega Rosalía de Castro nasceu em Santiago de Compostela em 1837.
Escreveu em galego e em castelhano e acabou por se tornar um expoente da poesia galega moderna ao introduzir inovações estilísticas e novos ritmos na poesia galega. Lorca e Pascoaes, por exemplo, admiravam-na.
Em 1857 publicou o seu primeiro livro de poesia “La Flor”. Em 1863 “Cantares Galegos” (breves glosas de canções populares), e em 1880 “Folhas Novas”. Também escreveu prosa (“Conto Galego”, em 1923).
Em “Nas Margens do Sar” (1885) predomina a realidade da dor e um obsessivo sentimento da morte. É um livro de sobressaltos, de um lirismo torturado, delicado e cruel.
Rosalía acabaria por se tornar um dos símbolos máximos da poesia do sofrimento, da tristeza, da amargura e da fatalidade, tal como Florbela Espanca em Portugal. Mas também um estandarte de denúncia da “ocupação” castelhana, da pobreza, da emigração e da tristeza das mulheres galegas “viúvas de vivos-mortos” como lhes chamou Rosalía em Cantares Galegos (no poema que tão bem conhecemos "Cantar de Emigração", traduzido por José Niza e interpretado por Adriano Correia de Oliveira):
Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão
(...)

Em 1999, a Editorial Diferença publicou em Portugal, com tradução de José Carlos González, este "Nas Margens do Sar", que recomendo.


Era em Abril, e ao peso da neve
dobravam-se ainda os lírios feridos:
era em Dezembro, e a erva secou ao sol
como se fosse verão.

No verão ou no inverno, não duvides:
adulto, velho ou menino,
a erva e a flor são vítimas eternas
dos amargos enganos do destino.

O jovem sucumbe e, doente, abatido,
o ancião sobrevive; o rico morre
amando a vida, e o mendigo faminto
que espera a morte, parece um eterno vivo.

................



Vós, que dum céu imaginado

viveis, como Narciso, enamorados,

não podereis mudar da criatura,

na sua essência eternamente a mesma,
os instintos inatos.


Não apagareis nunca da alma humana

o orgulho da raça, o amor pátrio,
a vaidade do valor pessoal,

nem o orgulho do ser que se nega

a perder do seu ser o menor átomo.

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