quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Na estante de culto






O Cardo e a Rosa
Poesia do Barroco Alemão
Selecção, tradução e prefácio de João Barrento
Assírio & Alvim, 2002
Edição bilingue






Não se assustem! É barroco, mas é uma delícia! Parafraseando o poeta Luís Graça, João Barrento é garantia de qualidade. E é uma verdade. Não vá esta pérola ficar esquecida nas prateleiras das livrarias por amedrontar os leitores mais desconfiados, digo-vos que estes poemas se lêm de uma golfada. E até com um sorriso nos lábios.
O século XVII na Alemanha, foi sobretudo, um tempo de contrastes e a poesia barroca não se limita ao misticismo, ao temor da morte ou à religião. Alguma poesia do barroco alemão acabaria até por revelar-se inovadora, sobretudo na poesia galante, erótica e satírica, tal como nos explica Barrento no seu excelente prefácio.
Nesta selecção de João Barrento proliferam os discursos mais diversos, numa espectacular manifestação, desordenada e paradoxal, proteica e contraditória, de teatralidade.

"(...) este livro de poesia barroca é para todos os leitores um bom motivo para fazer uma viagem. Uma viagem onde? Ao coração dos grandes criadores da poética alemã sob o signo da melancolia (...) O leitor escolhe. O livro acolhe. Mas, com excelente tradução de João Barrento, é bem provável que quem não acolha este livro perca a oportunidade de entrar numa grande literatura."
António Carlos Cortez in «os meus livros» Outubro/2002















A Sílvia

Porque praguejas, Sílvia, quando esta negra mão

....
C'o teu seio quer brincar?

Era alva como tu, e o fogo da paixão
....Assim a fez ficar.
Se com teu fogo vens meu corpo incendiar,

De mármore nem neve pode minha mão ser.

Dizes-lhe que não busque e não faça o que faz.

....
Tens razão. Há-de ser.
Mais não busca que a ti, mais não quer do que paz

....
E seu jogo jogar.
De que te queixas, pois? E que razões ter julgas,
Já que favores iguais não os negas às pulgas?

Benjamin Neukirch
(1665-1729)


Dizei lá: o que é o amor?

Corações juntos.................e unidos. Um ve
neno mais que doce. ...........Dor que faz bem aos

sentidos. Seta que acerta......e adormece. Obra que
ao mundo traz gente. Moço fogoso e atrevido. Um
jogo que afinal mente. Chama de braseiro de Cupi
do. Fardo leve de levar. Menino amável galan

te. Tristeza que dá prazer. Corda que prende o

amante. Ser cego, sombrio, sinistro. Noite

de gozo e grandeza. Livro já lido e revis

to. Fausto de fugaz beleza. Feira de

comprar remorsos. Desrazão in

teligente. Estrada de muitos
cansaços. Fogo que
arde eterna

mente.



Georg Philip Handsdörffer
(1607 - 1658)

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