segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Sons nocturnos

Pela velha porta
Rangendo que é um gosto,
Entra o carvoeiro
Com muitas canecas pretas
Tão tristes como cartas pretas.
Hm – que quererá o carvoeiro?
Virá ele oferecer
As últimas gotas aos velhos beberrões?
O carvoeiro tem pernitas curtas;
O seu corpo é uma grande pedrinha quadrada.
E sobre a pedrinha assenta uma cabeça de cera –
Que naturalmente se desfaz toda,
Porque o fogão está quente.
E as canecas pretas caem
Das mãos pretas e velhas
Deste velho carvoeiro
Sobre o soalho branco e mudo.
E o vinho molha as tábuas.
Os velhos beberrões acham muita graça.
As pernitas do carvoeiro
Partem-se ao meio.
E o fogão
Continua encostado à parede – como sempre.

Paul Scheerbart
(1909)
(tradução de João Barrento)

1 comentário:

magarça disse...

Não conhecia...mais um poeta a descobrir.