sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Na estante de Culto






Alguns dos mais conhecidos e mais belos poemas de Sylvia Plath, escritos entre 1960 e 1963, na sua maioria escritos nos últimos meses antes do seu suicídio.
Uma espécie de "crónica" do seu suplício, que foi publicada pela primeira vez em 1965 pela Faber & Faber (dois anos depois da sua morte), organizada por Ted Hughes.
Poemas destrutivos e desesperados, mas também ternos, inteligentes e irónicos, onde Sylvia mostra de forma categórica a maturidade do seu génio poético.


Ovelhas no nevoeiro

As colinas descem sobre a brancura.
Pessoas ou estrelas
Olham-me tristemente, desaponto-as.

O comboio deixa o traço da sua respiração.
Oh lento
Cavalo cor da ferrugem,

Cascos, guizos de dor —
Toda a manhã a
Manhã tem vindo a escurecer,

Uma flor posta de lado.
Os meus ossos ganham imobilidade. Campos
Distantes suavizam o meu coração.

Ameaçam
Deixar-me entrar para um paraíso
Onde não há estrelas, não há pais, secreta água.


“Ariel”
Sylvia Plath
Tradução de Fernanda Borges
Relógio D’Água
1996
Bilingue

Recomendo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Adoro este livro de Sylvia Plath e só pode pertencer ao grupo de Livros de Culto, uma obra magnífica entre as maiores do século XX.
Apenas uns breves apontamentos. Este livro, uma colectânea de poemas a maioria dos quais escritos nos últimos meses antes do suicídio (11 de Fevereiro de 1963 – muito vais ter que trabalhar no teu blog em 11 Fevereiro) e, como referes, dá-nos uma “crónica” da dor que lhe vai dentro, leia-se a pág. 171, o penúltimo poema de Ariel, “Ponto-Limite”, (quase de certeza o último poema que Plath escreveu) para se entender bem o que se está dizendo.
Sylvia é normalmente apontada como poeta confessional e tem sido vista como a “mártir romântica” umas vezes, outras como a feminista, outras vezes ainda como a pacifista, em termos de discurso político e até quem veja na sua obra rituais iniciáticos ou ser “um espaço privilegiado de explicações edipianas ou reflexões sobre a esquizofrenia”...eu diria que está lá tudo o indicado mas a sua poesia tem também uma face mítica, o mito do deus morto parece-me ser um dos aspectos fundamentais da sua poesia, (o pai e Ted Hughes representavam este deus poderoso, paralelamente à admiração que tinha pelos dois havia como que um ódio e somente a destruição deles poderia dar-lhe a autonomia necessária para desenvolver o seu potencial criativo; outro do mitos é o da Lua que está explícita em muitos poemas, em “Ponto-Limite” a Lua assiste impassível, uma presença implacável e em “Olmo” diz:”Também da lua está ausente a piedade” (pág 43). O branco é a cor mais significativa da sua poesia e é sempre o símbolo da morte (ou renovação iminente) porque em Sylvia a morte mítica marca o início de um novo ciclo, não é o fim de tudo, a eliminação da sua identidade (lembremos como em muitos mitos a morte de um deus é seguida pela sua ressurreição), e penso ser este o sentido da morte na sua poesia...
Não deixa de ser interessante referir que Sylvia nasceu em Boston, Massachusetts, berço de vários poetas americanos, importantes, como Robert Lowell, Anne Sexton, Elizabeth Bishop, Emily Dickinson e Robert Frost.
Por último, recordar uma biografia sobre Plath (das inúmeras existentes) chamada “Amarga Fama”, título excelente, retirado de dois versos de Anna Akhmatova (outra mulher excepcional, talentosa): "Se não podes dar amor e paz/Dá-me então amarga fama", a lembrar os caminhos para um título que uma certa Inês fez com o nome deste blog!!!!!