Aqui fica, Luís, uma prenda de aniversário (minha e do Luís Gaspar). Uma gravação audio do teu poema “Afectos”:
Afectos
Fiquei a saber num destes fins-de-tarde
que se podia estar subnutrido de ternura
e afoguei-me no desânimo que me acenava do horizonte
Caiu-me uma pérola húmida do olhar
pensei apenas em guardar em mim
a saudade das carícias tecidas em silêncio
Não foi possível, acendeste-me o desejo dos teus dedos
apetecia-me beijar-te como quem afaga um charuto com os lábios
vendo subir aos céus o fumo do teu cio
Fiquei a saber numa destas noites de lua cheia
que se podia estar subnutrido de ternura
caiu-me uma pérola húmida do olhar
Apesar de os lobisomens
não se poderem dar ao luxo de cultivar mágoas
nas plantações do estio que passa
Apenas lhes é concedido o grato subterfúgio
de uivar nas trevas como quem urde um poema
às escondidas de Deus
Fiquei a saber numa destas manhãs de trovoada
que o teu corpo era feito de raios e coriscos
e que os teus pais não te deixavam fazer amor sozinha
Por terem medo
dos teus gritos de prazer
na hora de te sentires mulher
Mesmo assim fazias amor sozinha
dispensando-me o teu corpo
em marés de luz
Fiquei a saber numa destas madrugadas de fogo
que a ternura está guardada num baú
disfarçado de cofre à prova de sentimentos
Nessa mesma hora
senti o meu ser
a dissolver-se devagar
Ao longe, muito ao longe
lembro-me de ter sentido um arrepio na alma
como se tivesses pintado o teu sorriso no meu peito
Luís Graça
6 comentários:
Muito obrigado, Inês e Luís.
Foi um belo presente.
Gostei particularmente da piedade com que o Luís me tratou: ao aperceber-se de que estava subnutrido de ternura, trocou os fins-de-tarde do primeiro verso (que são 7 por semana) por fins-de-semana (que são só dois fins-de-tarde). E assim me poupou de ternura subnutrida.
Gostei!
E como este é um poema antigo, tenho a sensação de que a forma final levou um desbaste.
Mas estou com preguiça de ir à procura.
Já estive umas horas no Hotmail a agradecer felicitações do pessoal que sabe que eu sou noctívago e mandou SMS e mensagens via Net.
E também mandei mensagens para os amigos que fazem anos hoje: um foto-jornalista 7 anos mais novo, um guia turístico dois anos mais velho e um médico exactamente da mesma idade.
Também há o Simão Sabrosa, mas com esse não vou à bola.
E podes acrescentar mais um livro aos meus: descobri ontem na Bulhosa das Amoreiras:"A jeito de homenagem a Eugénio de Andrade", das Fólio Edições e 1º de Janeiro.
Um "monstro" de mais de 400 páginas, com mais de 300 poetas participantes, muitos deles meus amigos da Tertúlia "Rio de Prata".
Um trabalho devoto e hercúleo de Montezuma de Carvalho, que teve a ideia de homenagear Eugénio por ocasião dos seus 80 anos.
Houve percalços de vária ordem e o projecto foi-se atrasando. Os poemas foram sendo publicados no "1º de Janeiro", em várias prestações suaves.
E ontem dei com o livro, por acaso. Comecei a folhear e depois apercebi-me que era o tal livro!
O meu poema era de 20/11/2000 e toda a gente glosava o inédito de 5/10/99 de Eugénio, escrito na Foz do Douro, que era assim:
Uma rosa depois da neve.
Não sei que fazer
de uma rosa no inverno.
Se não for para arder
ser rosa no inverso de que serve?
Chama-se "Improviso" e sinto-me muito honrado por ter participado.
Não sou um dos "happy few" porque são mais de 300. Mas "the day is ours".
Luís
Como não nos conhecemos pessoalmente, aqui estou associando-me por esta via, a estas prendas maravilhosas que a Inês Ramos te ofertou, são um “presentão” com amigas assim estás livre do “mau olhado”!!!!! ;-)))))
PARABÉNS!!!!
Acho que o poema por ela escolhido para abrir hoje o Porosidade Etérea tem tudo a ver com a tua poesia, com tudo o que ela alberga e se não houvesse hipótese de ter outro poema teu este era-O, e atrevo-me a dizer, depois do que a Inês aqui diz, que tem tudo a ver Contigo!!!!
Obrigado Luís por seres, vai um ABRAÇO amigo
Joaquim
Obrigado, caro Joaquim.
Agora vou ver o Bayern-Sporting e espero que o Ricardo me deixe subnutrido de frangos.
Mas a esperança de vitória não é muita.
O que nem me afecta nada os afectos.
fiquei a saber neste blog que assim se fazem os poemas de afecto
Ao longe, muito longe...
Transformas o tempo em real, a verdade poética única, o teu talento imutável.
Quero com isto dizer, que descobres como ninguém o amor que nutres pela poesia como se de um longo e inexplicável prazer te tornasses cada vez mais vigoroso. E...rebelde nas tuas palavras que afectivamente enches libidinalmente quem lê os teus poemas.
Parabéns pelo que tens feito pela poesia nacional e também à Inês Santos pela óptima e sincronizada simbiose.
Obrigado, Nuno.
Isso é um bocado exagerado, essa de ter feito algo pela poesia nacional.
Mas é um facto que na poesia satírico-obscena já cheguei ao "You Tube". Disseram-me ontem que há dois clips do Unas a recitar poemas meus do "Cabaret da Coxa".
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