quarta-feira, 10 de abril de 2013

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia



ARDENTIA
Gonçalo Salvado
Ilustrações de Ambrósio Ferreira
Editorial Tágide, 2011








Fulgor

Oh, amar um corpo
como uma chama na água!
Um corpo não morre
se flui como lava,
se o desejo o percorre,
se feliz o devasta.
Teu corpo me queima,
tua pele me abrasa.
Quem diz que o amor se extingue
e com um beijo se apaga?
Não vês a fogueira
que de nós desponta
ébria e molhada?
Serão cinzas
estas rosas por ti ateadas?
Sobre os teus lábios, amada,
que sede de amoras,
de seiva de prata!
Que febre de ouro,
que ramagens ardidas
por labaredas suadas!
Oh, o odor do linho
em teus ombros,
o perfume das altas madrugadas!
A relva sossegada
que tuas nascentes
submergem e invadem!
Não há tréguas para quem ama,
para quem afaga
o fulgor de um corpo que arde na água.
Que furor despertas na fonte do fogo
que sinto tremer toda a minha folhagem?

1 comentário:

vieira calado disse...

Um corpo que arde na água!
Que bela imagem!

Bjssss