terça-feira, 18 de outubro de 2011

CASTELO BRANCO: Apresentação de livro de Gonçalo Salvado

No contexto das exposições patentes até 11 de Novembro no antigo edifício dos CTT de Castelo Branco: “Arte no Feminino e o Feminino na Arte”, comissariadas por Maria João Fernandes com organização de Paula Lisboa, Cristina Granada e Carlos Semedo, será apresentado, no próximo sábado, dia 22 de Outubro, pelas 18H00, no mesmo local, o livro ARDENTIA, poemas de Gonçalo Salvado, desenhos de Ambrósio Ferreira e prefácios de Fernando Paulouro e Maria João Fernandes. O livro, assumido pela Editorial Tágide, conta com o apoio exclusivo da Câmara Municipal de Castelo Branco.

A apresentação estará a cargo dos autores dos prefácios.


EM TI

Em ti o chão exausto de meu desejo. A flor aberta
dos sentidos. A calidez do lume. A água. O vinho.
O sangue a estuar em fúria. O grito do sol
que em transe de labareda fulge e irradia.
A extensão de tantos vales
e colinas. Fragrantes. Infinitas.
Os pomos saborosos, repartidos.
Os gomos. Os sumos ardorosos.
Os bosques impregnados de maresia.
A placidez molhada das ervas.
O luzir loiro das searas pelo vento devastadas.
O estio. O seu zénite. A sua vertigem.

Em ti a inclinação dos ramos. A translucidez do verde.
O derrame da seiva. O estremecer das raizes.
O musgo despontando. O aveludado dos troncos.
Os álamos. Os plátanos. E outras núbeis melodias.
O espreguiçar incandescente dos rios.
O êxtase das aves altas anunciando o fervor
de um beijo. De um afago. De uma carícia.
O hálito das corolas. As sépalas. Os estames.
O brilho e o odor silvestre da resina. A relva sedosa.
A primavera inebriada com sua própria brisa.

Em ti o menear da terra. As eiras. O feno flamante.
O irromper dos brotos. O despertar dos cálices.
A embriaguez do nardo. E da acácia, festiva.
O matiz das cores na várzea repercutido.
O som dos mananciais posto a descoberto.
O manar das fontes em euforia.
Os céus azuis a derramarem hinos.
O trinado agudo da andorinha.
O acenar obstinado dos choupos.
As centelhas rubras do crepúsculo.
O perfume juvenil das vinhas.

Em ti o delírio das ondas. Das espumas.
As fogueiras ateadas. Os aromas fulvos.
O sopro das chamas. O pão aceso. As espigas.
Os campos de lilases que se estendem
numa queimadura de aurora.
As pétalas humedecidas.
O incêndio azul do orvalho.
A alvura da açucena na manhã florida.

Em ti, amada, celebro a memória de todas as coisas vivas.

Gonçalo Salvado

2 comentários:

Lua Nova disse...

Bendito poeta que com palavras belas e perfeitamente costuradas, balisa a direção dos ventos da vida e amansa a ansiedade que me faz perder-me me mim. Que bem me fez ler esta poesia, que carícia para minha alma.

"O musgo despontando. O aveludado dos troncos.
Os álamos. Os plátanos. E outras núbeis melodias.
O espreguiçar incandescente dos rios.
O êxtase das aves altas anunciando o fervor
de um beijo. De um afago. De uma carícia."

Magia, paz e encantamento.
Obrigada por tão lindo momento.
Beijokas e meu carinho.

Anónimo disse...

O Gonçalo é filho do grande António Salvado.