As Raízes Diferentes
Fernando Guimarães
Relógio d'Água, 2011
Relógio d'Água, 2011
Refiro-me à tranquilidade que existe nos jardins. Sem pressa,
principiamos agora a caminhar pelos passeios que separam
os tufos das plantas, os arbustos. Podíamos dizer que eles se tornaram
semelhantes ao tempo, à água que corre perto. Sentíamos
mais o seu movimento que o nosso, porque estamos cansados,
e, próximos de um portão de ferro, tínhamos ao entrar recebido
o seu peso. Depois seguimos pelos corredores, atravessamos
as salas. As paredes eram como fendas, delicadamente cercadas
por molduras. Dentro delas cabiam as imagens
que passavam a ser como os nossos olhos. Era assim que a luz
vinha ter connosco só para ensinar-nos que a sua origem
estava lá fora, misturada com as flores entreabertas, as folhas
caídas, os arbustos que foram tocados levemente pelo vento
ou o que podia ser ali uma recordação: os cães. Eles tinham percorrido
outrora as mesmas salas, as escadarias, os caminhos com saibro,
as lajes. Era aí que esperavam pacientemente que a sua dona
os viesse alagar. Agora já não existem. Mas à volta há-de sentir-se ainda
os odores que eles conheciam, a maneira como o espaço se tornou
mais vazio. Estão nos canteiros espalhadas as suas cinzas.
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