segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Ode à Liberdade
e outros poemas
Fernando Cabrita
Edição bilingue (português e espanhol)
Tradução para o castelhano de Manuel Moya

Gente Singular, Janeiro 2011




(...)
Sempre em ti se cevaram os colmilhos vis
de todos os déspotas,
todo o fogo vasto dos impérios e das
ditaduras.
Sempre contra ti se atiçaram os mastins
de todos os soberbos,
os Reis dos Reis,
os tiranos e o flagelo dos paraísos
inventados,
os sicários,
os esbirros,
os beleguins,
os construtores de cárceres,
os verdugos,
os carrascos,
os torquemadas,
as falanges,
as milícias,
os familiares de todos os ofícios santos,
os que te invocaram para te deixar
exangue
sob as adagas do crime,
os cruéis,
os que se alimentaram da carne dos teus
filhos,
os nogaret e os sciarra collona,
todos os credos velhos e todos os credos
novos,
os vultos obscuros das obscuras mentes,
os sinédrios e os concílios,
os padres de todas as inquisições,
todos os Velhos da Montanha,
os exércitos da ignomínia,
todas as roças,
todos os sínodos do medo,
todos os sabres de teles jordão,
todos os degredos,
todas as pestilências moles da alma,
todos os barcos negreiros,
todas as levas de escravos,
toda a presúria e toda a devastação,
todos os traidores a quem Roma final não
pagou,
todo o dolo,
todos os senhores de pendão e algara,
todos os potentados que se quiseram
deuses,
todos os Césares e todos os Rás,
todos os malefícios da Terra
e os cavaleiros de mais do que um
Apocalipse,
os torturadores
os assassinos,
os cobardes,
os hipócritas,
os Dez Mil Imortais
marchando sobre o corpo destroçado dos seus
adversários,
os adoradores da carnificina,
todos os conquistadores,
todos os caudilhos,
os que se comprazem no sangue e no medo,
os que se deram ao massacre e à
pilhagem,
os violentos,
os trucidadores,
os cúmplices de cada matança de
inocentes,
os que abriram os vagões da morte ao
final de cada caminho,
e que cantaram a morte em rudes canções
de guerra,
e que glorificaram a morte que traziam nos
braços como a um filho,
e que gritavam Viva La Muerte,
e que chegavam, viam e venciam entre
rios de morte,
e que santificavam a morte,
os cultores da morte,
os que abriram, a cada cerco, a Porta da
Traição,
os que não têm decência,
os que não têm palavra,
os que não têm misericórdia,
os que já nem rostos de homens têm,
já nem rostos nem alma de homens.
(...)

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