O júri do Prémio Literário ‘António Cabral’ decidiu, por unanimidade, declarar vencedor original Sistina, de Miguel Bravo, pseudónimo de Amadeu Baptista (n. 1953).
Em quase trinta anos de edição – onde já se entreviam inspirações bíblicas, como tentações, ismaelitas e Nínive –, a discursividade deste poeta eleva, agora, suas repetições, anáforas, copulativas, pronomes pessoais, tempos de um verbo novo e metáforas à altura do salmo, entre Velho e Novo Testamento, com figurações crísticas e pagãs, num balancear que a arquitectura da Capela Sistina promove e euforiza.
A leitura de espaço maior da Cristandade assenta na relação ecfrástica (processo regular no premiado) entre arquitectura, pintura fortemente individualizada e poesia, constituindo inesperada revisão da história da Humanidade. Esse balanço ou alternância é também oposição e equivalência, em que se alicerça a composição do livro, à imagem do Livro: parede da ala esquerda, parede da ala direita, fechando, além, com a morte de Moisés e, aqui, com a Última Ceia; chão, tecto – e, neste, profetas versus sibilas, com, nos painéis centrais, quadros genesíacos e cenas pouco edificantes. São quarenta poemas – o número 40 tem forte significado na Bíblia – coroados por um Juízo Final que é louvor da arte e sua capacidade ressurreccional.
Na conseguida unidade do conjunto, em revisitação de um locus nunca extensivamente cuidado na nossa lírica, ressuma o ouro de uma inesperada religiosidade.
Tinham-se apresentado a concurso 43 trabalhos, alguns de notável qualidade.
A data e programa da sessão de entrega do Prémio serão oportunamente divulgados.
(texto do blogue de Amadeu Baptista)
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