
Morreu ontem, vítima de AVC, o Poeta Ildásio Tavares.
Pertencente à geração da
Revista da Bahia, Ildásio publicou o seu primeiro livro,
Somente um canto, em 1968. Dominando vários estilos poéticos, tinha uma particular fascinação pelo soneto, de que publicou uma selecção em Portugal (
As Flores do Caos, Labirinto, 2008). A sua obra estende-se ainda ao ensaio, à ficção e ao teatro.
Foi também jornalista e académico de reconhecido mérito, tendo leccionado Literatura Portuguesa durante mais de 25 anos.
A minha amada não tem coração -
ela tem um disquete no lugar
que a faz nada sentir, tudo pensar,
mobilizando tanto sua razão
que neutraliza a força da paixão.
Ela está sempre pronta a deletar
meu coração que vive a lhe acessar
e jamais quer salvar a sensação.
Sem ter memória com que me resguarde
(ela só pensa em formatar a fonte
e minha fonte é o coração que me arde),
limitei numa tela meu horizonte
e tudo sinto, sem fazer alarde,
sem um programa em que meu sol desponte.
(in
O prisma das muitas cores - Poesia de Amor Portuguesa e Brasileira, Organização de Victor Oliveira Mateus; Prefácio de António Carlos Cortez, Labirinto, 2010)