sábado, 3 de julho de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Caligraphia do Espanto
Ricardo Gil Soeiro
Edições Húmus, 2010








deixemos correr a chuva
as fotografias despidas de culpa,
o incessante crepitar do deserto.

o que existe para lá da nudez da ausência
só a nós nos diz respeito:
os lápis de colorir, o silêncio, a morte.

um mudo ardor consentido,
murmurando em surdina a ilíada,
uma e outra vez o desabrochar da lagoa.

só isto peço:
caminhar a teu lado,
munido de pétalas ilegíveis,
resgatando naufrágios em câmara lenta.

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