sábado, 10 de julho de 2010

Novidades Cativa


Poemas do Banco de Trás
Rui Dias Simão
Edições CATIVA, Maio 2010







Quando inclino o corpo para a lentidão
redonda dos teus seios, vejo atentamente
que ainda não respiro o futuro.Sabes,
o pólen cai na boca dos que abrem
o silêncio. Sobra talvez uma fuligem em
cada pulso, levanta-se um leve vento,
mas os dias animados sequer encolhem
quando enlouqueces com as tuas baças
unhas amarelas...

Não é assim a casa desta manhã quando
os pintassilgos folheiam os cardos, e a cama
é devagar ao lado duma fogueira desmaiada.
As cabeças estremecem um pouco no
regresso do sol das dunas, há um navio
que deambula ainda no corpo, na exígua
memória duma guitarra e outras cordas e peixes.
Sim, alguém se debruça para dentro de nós,
quer sacudir a profunda alegria de sermos
uma realidade com sonho aberto...

Todavia temos os castelos que inventámos
após o murmúrio dos pinheiros altos, onde
guardámos as amoras, os medronhos
secos. Bebemos agora a água que resta
doutro vinho, proclamamos a prenhe volição,
a visceral palavra, e embora com uma ramela
a descansar em qualquer labirinto disponível
somos um carrossel de emoções descobrindo
aquilo que pressagiámos durante a vária
areia. Inclinamos o corpo e vemos atentamente
que ainda não respiramos o futuro...

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