terça-feira, 25 de maio de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Geisers
Maria Estela Guedes
Incomunidade, 2009








Cor-de-burro-quando-foge

Qual a diferença
Entre cor de velho e cor de adolescente?
Escreveu-me a divindade certo dia
E eu, que nem fósforos coleccionava,
Mas tinha ainda a tonalidade juvenil,
Recortei a divina rubrica
Destruindo assim o seu valor e o da missiva.
Era uma carta de Mário Cesariny.

Ali nos banhávamos, em letras de luz narcísica;
O ego resplandecente e muito maior que rã
De fábula.
Os girassóis debruçados das orelhas de Van Gogh
Estremeciam como lustres incendiados.

E agora vamos cor-de-burro-quando-foge
Cor-de-noite-quando-chega
Mal acompanhada,
Vamos indo cada vez mais para norte
Para as pradarias de neve
Pintar a merda da morte.

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