sábado, 29 de maio de 2010

Os vossos poemas


Caros etéreos,
Como sabem, no último passatempo o mote era a palavra "Sul" pois tinha para oferecer exemplares da revista "Sulscrito" aos primeiros 14 participantes que enviassem os seus poemas.
Assim sendo, os participantes mais rápidos que receberão exemplares da revista "Sulscrito" são:

1. Gabriela Rocha Martins
2. João Coelho
3. António José Queiroz
4. Constança Lucas
5. Joaquim Sustelo
6. Raquel Lacerda
7. João Rasteiro
8. Domingos da Mota
9. João Caldas
10. Eduardo M. Raposo
11. José Miguel de Oliveira
12. Fernando de Jesus Ferreira
13. Marta Vinhais
14. Carlos Teixeira Luis

Eis todos os poemas participantes, pela ordem que chegaram:


-lençóis de vento

o
vento fustiga as janelas e
tudo parece louco em derredor

quando a chuva abre no peito um vale de
lama por onde escorrem caudais de rios
o corpo tem.se navio no meio do temporal e

as árvores oscilam derramando pela terra//mar

imagens reflectidas de suas hastes

vejo.as no canto sul do quintal


o vento acalma e um silêncio de memórias cobre

os vidros embaciados das janelas onde

a saudade do verão e de cada um de nós

regressa aos roseirais despidos

pelo frio e pelo vento obliterados em textos

escritos dentro da chuva

impenetrável o jardim cobre.se de
uma miríade de ninfas e duendes que
dança envolta em lençóis de vento en
quanto o excesso de água os transforma
em árvores seculares cujos ramos são
os braços do tempo e as folhas os dedos com

que estilizam a roupa agreste dos dias

desfazendo em neve branca a túnica que
habitual

mente

ornamenta o ventre azul do verão


de repente tudo pára
e
ao som de invernosos solos de violinos
as palavras infiltram.se nos poemas
................................pela fímbria do poente

gabriela rocha martins
http://cantochao.blogspot.com

*****

Farpas

nunca te menti. tu sabes isso.
também sabes que não há volta a dar.
sempre to disse.

assim me sento, sabes, em vigia constante
e incansável sobre a sombra da minha sombra
como um formigueiro debaixo da língua indecisa,
teimoso em ver a morte morder a minha mão febril
sem saber se é silêncio ou labareda
este som que arrepia o pó das minhas pálpebras
quando finjo dormir.

o coração, esse, há muito me empurra para Sul
com o veneno que nos é tudo.

nunca te menti. tu sabe-lo.
melhor ser eu e só eu a dizer-to
que o ouvires de alguém
que não conheça tão bem a tua dor
quanto eu.

João Coelho

*****


Sul

Há presságios que se anunciam
no voo irisado das cegonhas,
na inviolada brancura dos portais.
Em cada boca há desejos de água fresca
e um segredo quase azul em cada olhar.
Nos rostos curtidos pelo sol
há uma bússola que aponta para o sul.
Tudo parece calmo, quase inocente,
como a sombra tranquila dos sobreiros
na ardente solidão da planície.

António José Queiroz

*****


Mar do sul

O que eu te quero contar
está escrito nos ventos do mar do sul
o que eu te quero contar está nas águas
com as palavras escritas na pele,
O que eu te quero contar está no sal,
no barco que em mim procura o vento,
em mim vislumbra os olhares
dos pequenos nadas
O que eu te quero contar veio do norte
numa tempestade desenhada,
como se mergulhássemos num silêncio longo.
O que eu te quero contar
veio do vento sul com que me deito,
encantada com as palavras numa toada antiga
invento longas conversas sem destino.
O que eu te quero contar
mora dentro das minhas árvores azuis,
segredos longos trocam-nos os afetos.
O que eu te quero contar
está nas areias junto ao mar.

Constança Lucas
http://constancalucas.blogspot.com

*****


NOITE... NO SUL

Há um silêncio na noite
Nesta imensa magnitude
Apelativa quietude
Pra que minh' alma se acoite

Mas antes o pensamento
Vagueia por esse espaço...
Há um poema que faço
Na inspiração do momento

Oh noite silenciosa!
Vem-me o perfume da rosa
Que me sorri do jardim

Noite envolta em véus de tule
A bela noite do Sul
Embriagando-me assim...
Joaquim Sustelo

*****


Nesse dia em que regressaste
vindo da barragem de águas amargas

parado e parando em terras de cor vermelha,
o eco dos teus passos ouvia-se lá do alto,

como se fosses o próprio andar de tudo o que se move.
E virás sempre do mesmo sítio,
sempre para o mesmo lugar,
tão perto e a Sul de me amar.

Raquel Lacerda
www.asinhasdefrango.blogspot.com

*****


Arquitectura Revisitada

À gabriela rocha martins

No céu
uma intempérie
como só a intempérie do amor.

Pela arquitectura da carne
a sua cicatriz era a taifa acesa
o inaudível.

Porém para me mostrar a flor
ouso pensar que o fogo de I´timad
apazigua o Sul:

- Não existes
Silves lá no remanso do rio
sem as vestes escravas do sagrado.

Diria que era I´timad
a indivisível luz
e que é o verbo primordial da aurora.

Consigo o desabrochar da sílaba
ciclos do alfabeto do tempo
cativos do alaúde:

- Incandescente, tão incandescente
como a melancolia do sémen
que outrora era lágrima
a chuva de Primavera aberta ao cio
de eternidade em eternidade
como um denso aroma, suave corpo.

João Rasteiro
http://www.nocentrodoarco.blogspot.com

*****


Declinação das Aves

As aves
Declinam
O verão

E partem
Bandeadas
Para o sul

Mal o sol
Lhes dá
O diapasão

Domingos da Mota

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No meio do deserto
Ao Norte areia
Ao Sul areia
A Este e a Oeste só areia
E no céu o espelho da areia
A bloquear todas as fugas.

No deambular perdido dos prisioneiros
Ouvem-se aviões
Vêm do Sul do Norte das estrelas
Escondidos na opacidade de um céu de areia
Os que estão sós
Aguardam o rasgar do Templo.

João Caldas
http://olhareserrantes.blogspot.com

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Meu Amor, Alentejo

O Sol
a Sul

fecunda os corpos

incendeia os sentidos…
Uma louca sinfonia

vinda do fundo dos tempos.

Insaciável e urgente!

Encontro pleno!

O côncavo e o convexo

que se sorvem

..........
que se respiram

....................que se bebem
...........................…sem palavras

Cavalo de fogo!...

Poderoso!
Risca o silêncio do montado
…beija a terra mágica


Post-Scriptum - havia uma ponte antiga, talvez romana…

Eduardo M. Raposo
http://perfumedelaranjeira.blogspot.com

*****


Bem sabes que não sou capaz
de dizer adeus
porque o amor tem sempre
a impossibilidade
da despedida
por não haver nele
nenhuma forma de morrer
como a luz do crepúsculo
que quando aqui se apaga
é para fazer dia noutro lugar.

E por isso não julgues
que tenha perdido
o norte
dentro da estátua de mármore
em que me transformaste
ao sul
dos teus olhos.
Como uma ostra no fundo do mar
vou depositando esta pérola no coração
para te deixar.

José Miguel de Oliveira
http://deliriospoeticos.blogspot.com

*****


A esfera do espaço em que o teu corpo se move
O espasmo em que o meu corpo explode
A bussola que não tem norte
e que impele as minhas mãos para o teu sul-magnético

Sempre o bater das ondas no teu corpo feito falésia
a latejar nos interstícios da minha memória.

Para sul
o lugar eterno dentro de ti
uma geografia que li
para um sítio onde fico
no mais profundo olvido
Fernando de Jesus Ferreira

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Viajo para Sul.
Se me perguntarem porquê,
não vou responder.
Estou a agir por impulso… eu sei….
Talvez esteja a fugir… estou consciente disso…
mas talvez no Sul, o deserto do desespero,
confrontado com o verdadeiro deserto,
com a areia, com o Sol escaldante, se dilua.
E, eu me reencontre com a vida e possa regressar.
Ao Norte… ou quem sabe??
Ficar enraizada para sempre no Sul….
Marta Vinhais
http://www.amartaeeu.blogspot.com

*****


Vim de sul

que eu tenha sucesso
nos ossos e nas cartilagens
pela vida fora
antes que venha a queda dos carvalhos
e os nevoeiros dos esquecidos

e depois
zarparemos para onde o lamento
do eco nos levar
bem longe talvez das canções
de coros árabes

tenho vida e vou em diante
por este caminho de pedra e sal
de mar encosta nuvem e deusas
de sol
e poeira

chegarei lá quando ficar perto do fim
da viagem que não acaba
porque Deus não quer
sabes lá o que sinto agora
as lágrimas bafejam-me os ossos

e o vento a corroer o sorriso
vim de sul
com os passos pesados e velhos
com a poeira da saudade entre a garganta
vim de sul vim de sol

chego osso a osso
e nunca parti
sou de lá sou de cá
durmo a sul no quente da planura
vim de sul…

(Dedicado a todos os alentejanos que a dureza do sol e da poeira os fez vir de sul para todo o lado. De Minas de São Domingos para Lisboa e Mundo.)

Carlos Teixeira Luis

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Correm versos nesse olhar
E ondas nos teu cabelo
E ao Sul querem rumar
Neste oceano tão belo

Numa brisa de canções
De saudade carregadas
Desenhadas nestas mãos
E com mar assim pintadas

E sou marinheiro cantor
De cantigas sempre novas
Sobra-me assim este amor
Que a Sul hoje renovas

Ricardo Silva Reis


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Vermelhas rubras papoilas

Vermelhas rubras papoilas
Salientes do chão quente, seco
Têm o rosto aberto
Avivam o tempo intenso
Coberto de raios de sol
Energia transbordando do seio
De um campo alentejano gemendo
De vozes cintilantes de cor.

Guadalupe Paraíba


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No Sul do meu navegar...

Descendo a Sul no rio prata exposto
Há uma foz de braços abertos... querer
Um caudal... por suster
Um beijo onda, por declamar
Um espelho d'agua por reter!

No Sul do meu navegar
Há bússolas nervosas, solstícios vida
Crispação horizonte... destino por amar
Âncoras e odores... por marear...
E o escrever... a Sul, mas com norte!

José Luís Outono
http://www.pretexto-classico.blogspot.com

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Mar Azul

Meu país é marinheiro
virado pró mar azul
nosso canteiro sequeiro
na longa seca do sul.

Meu país é marinheiro
virado para o mar largo
mal esqueceu do cativeiro
amargo fundo letargo.

Meu país é marinheiro
virado para o mar alto
vai num bote cavaleiro
cavalgando sobressalto.

Meu país é marinheiro
a vogar no mar da fome
é ninho de aventureiro
que o vende rói e consome.

Levado na maré
vai vogando tristemente
baixa-mar sem preia-mar
com vazante e sem enchente.

Meu país é marinheiro
virado para o futuro
teu povo, teu faroleiro
acende uma luz no escuro.

Meu país é marinheiro
não volta mais ao passado
daqui para o mundo inteiro
lança fraterno o seu brado!

Marilia Gonçalves
http://nossaspoesiaslibertarias.blogspot.com

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Fevereiro em flor
nos ramos da amendoeira -
meu país do Sul!

Leonilda Alfarrobinha

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na pele - o sol
do suor - o sal
do labor - o sul

eduardo roseira

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Volto ao sul, contrário à luz,
com sombra como cauda de noiva empertigada.
Volto ao sul, e esqueço norte e orientação.
Volto ao nada.
Sul, desterro.
Amarelo.
Solidão.
Volto ao sul, e na luz apenas encontro,
Envolto, mas solto, o tom macilento e lento da escuridão.
Volto
Volto
Volto ao sul.
A esforço
Volto.
Volto-me.
E é tão difícil voltar à força da negação,
Quando o olhar derramado em verde
Se perde na imensidão
Das ondas, aonde, ondas, ondas do mar de Vigo,
Te encontro, Inimigo
Aonde te perco, ó meu amigo,
Aonde perco, te perco
Se vistes o meu amigo,
E contigo peco,
Contigo
...
Perco
Perco
o senso, esse sentido, orientação
Romagem, peregrinação,
Se vistes, tal como eu, o meu amigo.
Aquele que comigo, contigo, é perdido.
A norte. Perdido. Sem salvação.
Volto ao sul.
Ao sul da fecundação
E é cheio de sul e de sol
Que me entrego, amaldiçoado,
às unhas negras - sexy
da perdição.
Volto ao sul.
Mas dele já não sou.
Sou todo norte. Todo rocha. Todo vento. Todo culpa
e Tradição.
Religião.
Heresia austera.
Acusação.
Volto ao sul.
E trago nas unhas as garras
Com que agarro e com que afago, lento, macilento, a tua minha traição.

Manuel Anastácio
http://literaturas.blogs.sapo.pt

*****


MAR DO SUL

São ondas de Mar,
.......Num vai – vem de marés,
..............São águas de sabor a sal,
......................Um Oceano a teus pés;

Branca espuma a flutuar,

.......
Formando lençóis de brancura,
..............
Que ao beijar tantas areias,
......................O fazem com mil ternuras;

Que namoro tão suave,

.......
Avançando e recuando,
..............Areias, águas, praias e mares,
......................
Neste Algarve ao Sul vão brincando.

Luis da Mota Filipe
http://luismotafilipesintrense.blogspot.com

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Brian & Anita

Lá mais para sul, depois da tórrida Sevilha, fica o estreito
que separa a Andaluzia dos pátios da guitarra de Lucia
da velha e nova terra da magia, onde se amaram
ao pôr-do-sol e esperando pela lua do deserto
serviram o chá lendo Paul Bowles, escutando
ao fundo o eco dos músicos de Jajouka nas montanhas
protegidos pelo céu onde ele é mesmo azul
apesar dos olhos já dilatados de tanta alucinação.

Foi para lá desse paraíso que se diz ter quebrado
o caleidoscópio da sua viagem.

pedro jubilot
http://canalsonora.blogs.sapo.pt/

(este poema foi o escolhido, neste passatempo, pelo Fernando Esteves Pinto – editor da revista – , para integrar a próxima revista Sulscrito)


*****


DESCOBERTAS

Montando o meu corcel de ondas celestes
- se a Pátria se render, a culpa é minha! –
Traço na Troposfera uma só linha
Nestas andanças lúdicas, equestres…

Depois do Norte-Sul, vêm os Lestes
E, talvez, a Poente, uma adivinha:
De quanta imensa onda se avizinha,
Qual é a que me leva, um dia destes?

Descubro e reinvento horizontais
Atenta ao doce canto dos jograis
Que vêm festejar o estranho evento.

Alguém, que me avistou, faz-me sinais
Mas eu navego ainda e quero mais!
Hei-de voltar se, um dia, tiver tempo…

Maria João Brito de Sousa
http://poetaporkedeusker.blogs.sapo.pt

*****


No Sul da Minh'Alma

Acordam madrugadas
Vestidas de vento e chuva
E lá, no sul da minh'alma
Fico quieta, de pensamentos vagos
Repouso, leve, as minhas mãos nas tuas...
Observamos demoradamente as luas
Que nos envolvem o olhar triste
Lá, no sul de outros mares agrestes
De barcos naufragados e portos vazios
De sonhos distantes e abraços ausentes...
Deito-me e adormeço a minha solidão.

Isabel Vilaverde
http://porto-dos-sentidos.blogspot.com

*****


BLUES DO DESERTO

os ecos ressoam ainda por dentro das cinzas
aragem feroz de tantas as ruínas desfalecidas.
gritos mudos nas aldeias deserdadas do sul
sangue crestado a esvair sob a aridez da terra
sangue a esvair violenta a gravidez das mulheres
nascem as crianças, pequenos corpos de sede:
rosas do deserto, essas crianças de olhos imensos

suspensas as pálpebras na ardência do sol
cada dia na miragem de uma assombrosa
maresia, da brancura de leve respiração.
como aves nómadas, medo contra o vento,
vida contra a morte. crescerem os passos
às nuvens, trilharem fábulas ditas na noite:
rosas do deserto, as crianças de olhos imensos.

Maria Manuel Rocha
http://blogcompalavrasaofundo.blogspot.com

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O poema que escolhi para ser gravado em audio pelo locutor/diseur Luís Gaspar foi o do José Miguel de Oliveira:

Bem sabes que não sou capaz
de dizer adeus
porque o amor tem sempre
a impossibilidade
da despedida
por não haver nele
nenhuma forma de morrer
como a luz do crepúsculo
que quando aqui se apaga
é para fazer dia noutro lugar.

E por isso não julgues
que tenha perdido
o norte
dentro da estátua de mármore
em que me transformaste
ao sul
dos teus olhos.
Como uma ostra no fundo do mar
vou depositando esta pérola no coração
para te deixar.




Obrigada a todos pela participação. Obrigada ao Luís Gaspar.
E... até ao próximo passatempo.

....................
Relembro que este "espaço aberto" é um espaço de tertúlia e não de alguma espécie de competição. Para isso existem os concursos literários, com júris e prémios monetários.
A vossa participação nestes passatempos deve ser sempre na óptica da partilha, da sã convivência, para divulgarem o que escrevem. Por isso vos agradeço a forma como têm participado nestes passatempos.
Os participantes que recebem livros, são apenas os que foram mais rápidos a enviar as colaborações.

2 comentários:

José Miguel de Oliveira disse...

Aquilo que a Inês e O Luís têm feito pela divulgação da poesia é inenarrável... e os passatempos, estes daqui, até podem ser o mote de uma ignição literária julgada perdida. bem hajam

OUTONO disse...

O meu obrigado pelo vosso empenho.
Para mim...o melhor prémio é esta VIVA expressão de partilha...

Um abraço.

José Luís OUTONO
http://www.pretexto-classico.blogspot.com