quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


Assinar a Pele
Antologia de poesia contemporânea sobre gatos
Organização de João Luís Barreto Guimarães
Assírio & Alvim, 2001




Veneza aos gatos

Lisboa às moscas e Veneza aos gatos...
(os pombos da bondade só conspurcam
a praça de S. Marcos)
...ao gato perna alta que não vem quando o chamas,
ao contrário da patrícia mosca
que não era para aqui chamada,
mas logo te soprou os últimos zunzuns
mal chegaste a Lisboa

O gato de Veneza não te dá pretextos
para miares o que te vai na alma,
nem os sacros temores da miaulesca
esfinge rilkeana.
Não é um gato é um perfil de gato
Tapando a saída da calleta.

O gato veneziano é um gato sem regaços
e sem selvajaria.
De Veneza o gato é sempre muitos gatos
que vão à sua vida...

...como tu, afinal, não vais à tua.

(De Veneza a Lisboa, num zunido,
já trazias a mosca no ouvido...)

Alexandre O’ Neill

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