sábado, 9 de janeiro de 2010
Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia
Lábio Cortado
Rui Almeida
Livrododia, 2009
Talvez da poesia possas receber alguma coisa;
Nem sempre o que sabemos nos encontra
E o mal de estar vivo é a incompreensão do mundo.
Porém, deixa-te estar aí, sentado, sem nada fazer –
É melhor do que arriscar, mais simples, desculpa-te
Com a angústia e com a decadência. Da poesia
Alimenta-te cautelosamente, não deixes que
Preencha qualquer dos vazios secretos do teu corpo.
Talvez as palavras sejam apenas justificações para
O instinto, para a necessidade de supressão da
Dor e do esquecimento que incomodam. Nunca
Seremos mais do que apenas carne e sangue
Enquanto o medo for a cor da pele do rosto.
Talvez o tacto seja uma alternativa ao texto;
Ou a sublimação exaustiva do desejo. Talvez
A memória seja apenas uma parte da ficção,
Um desconsolo feito alternativa aos dias,
Ao sonho e às responsabilidades. Dormir
Fecunda os processos de reunir palavras,
Simplifica as manobras do estilo e segura
A vontade da redundância. Tudo se perde
Na ânsia de testemunhar cada sensação.
E as mentiras com que nos justificamos
São o gesto arbitrário da melancolia quando
Nada mais nos pode impedir de recolher
Ao limite mais recôndito da esperança.
Deixa-te estar quieto, nada esperes que
Te impeça a inocência e a ignorância,
Pois as palavras nunca serão mais do que
Meras reminiscências, vagas, do que sentes.
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1 comentário:
Um blogue interessante. A literatura e a poesia como expoentes máximos da condição humana, errante, pensante.
http://paisdosporcos.blogspot.com
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