quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um livro de poesia a cada dia...
nem sabe o bem que lhe fazia


O Sal da Língua
precedido de
Trinta Poemas

Eugénio de Andrade
Biblioteca Prestígio, 2001






Metamorfoses da casa


Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.

A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.

Como estremece um torso delicado,
assim a casa, assim um barco.

Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.

Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.

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