sexta-feira, 19 de junho de 2009
Novidades Cosmorama
A carvão
Poesia reunida
Fernando de Castro Branco
2009
324 páginas
Capa: fotografia de Antoine Pimentel
Mestre em Literatura Moderna e Contemporânea, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, frequenta actualmente o curso de Doutoramento em Literaturas e Culturas Românicas, na mesma instituição. Publicou Poética do Sensível em Albano Martins (2004), Alquimia das Constelações [2005], O nome dos mortos [2006], Biografia das sombras [2006], Estrelas mínimas [2008] e Plantas hidropónicas [2008]. Em A carvão [2009] reuniu a sua poesia.
Rua de Costa Cabral
Ali os invernos eram longos mas suaves em sua crueldade.
Em Costa Cabral as noites eram húmidas,
mergulhava-se na madrugada com o amor preso nos dentes
e o que faltasse à vida era mesmo para rejeitar.
Pelas tantas chegavam o chulo e a prostituta
e se desesperavam em cavalgadas ruidosas
como se aos ouvidos sobejasse o que chiava:
dobradiças, encaixes ralos, folga nas madeiras
e a fraqueza de muitas mortes na cova do colchão.
Eu era o terceiro excluído, se bem que no longe
de quem olha o tecto e sente o ménage incompleto
no troisième que se ressente. E dobrado o cabo
das tormentas necessárias à juventude,
que após as aulas enfrentava promontórios ao virar da esquina,
sobrava na manhã o traço grosso
de quem leva pela rua a noite
escorrendo da cabeça.
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