segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sugestão da Andante para esta semana


Elegia da lembrança impossível

O que não daria eu pela memória
De uma rua de terra com baixos taipais
E de um alto ginete enchendo a alba
(Com o poncho grande e coçado)
Num dos dias da planície,
Num dia sem data.
O que não daria eu pela memória
Da minha mãe a olhar a manhã
Na fazenda de Santa Irene,
Sem saber que o seu nome ia ser Borges.
O que não daria eu pela memória
De ter lutado em Cepeda
E de ter visto Estanislao del Campo
Saudando a primeira bala
Com a alegria da coragem.
O que não daria eu pela memória
Dos barcos de Hengisto,
Zarpando do areal da Dinamarca
Para devastar uma ilha
Que ainda não era a Inglaterra.
O que não daria eu pela memória
(Tive-a e já a perdi)
De uma tela de ouro de Turner,
Tão vasta como a música.
O que não daria eu pela memória
De ter sido um ouvinte daquele Sócrates
Que, na tarde da cicuta,
Examinou serenamente o problema
Da imortalidade,
Alternando os mitos e as razões
Enquanto a morte azul ia subindo
Dos seus pés já tão frios.
O que não daria eu pela memória
De que tu me dissesses que me amavas
E de não ter dormido até à aurora,
Dissoluto e feliz.

Jorge Luis Borges
(Tradução de Fernando Pinto do Amaral)

Interpretado pela Andante:

Voz: Cristina Paiva; Música: György Ligeti; Sonoplastia: Fernando Ladeira


Próximas actuações da Andante:
13 Maio de 2009
A leitura em voz alta
Biblioteca Municipal de Alfândega da Fé, das 17.30 às 20.30

14 Maio de 2009
A leitura em voz alta
Biblioteca Municipal de Alfândega da Fé, das 17.30 às 20.30

15 Maio de 2009
A leitura em voz alta
Biblioteca Municipal de Vila Real, das 10.00 às 17.00

16 Maio de 2009
A leitura em voz alta
Biblioteca Municipal de Murça, das 10.00 às 17.00

3 comentários:

KrystalDiVerso disse...

Por amor de Deus!... Voltem, olhem bem para trás sem perder de vista a dimensão deste Poema, que não é um poema qualquer!... Onde está a Alma, a Saudade, a Revolta?...
tenho a certeza que poderão fazer melhor, muito melhor; é preciso é que acreditem no que lêem, no Poeta, na dor!...
Dseculpem, mas dou uma nota muito negativa. Com todo o respeito!

Escolham entre... beijos e abraços

"Como este é um dos blogs mais recentes e interessantes que adicionei aos meus caminhos "DiVersos", vou passar este "género de coisas" a pente fino e, postarei a minha humilde opinião. Espero não ficar tão desiludido quanto fiquei ao ouvir os estragos que fizeram a um marcante poema de um Prémio Nobel da Literatura".

Inês Ramos disse...

Meu caro visitante, pode passar este blogue a pente fino. Quanto à sua apreciação à interpretação deste poema, permita-me discordar.
Só quem não conhece o trabalho da Andante tem dúvidas sobre o seu trabalho. E uma interpretação teatral de um poema é apenas isso, uma interpretação teatral de um poema. Podemos ou não gostar, mas também podemos apenas ler um poema e não o ouvir na voz de ninguém.

KrystalDiVerso disse...

Lá nisso tem razão!... No entanto, a voz, quando se empresta a um Poema, é na consciência de sua compreensão e situação no tempo a que se refere. ~
Quanto à interpretação da "Andante", não me é possível enquadrar sua interpretação neste Poema de J.L. Borges; digamos que está complectamente fora do tom.
Quanto ao "passar a pente fino", leio em suas "entrelinhas" uma interpretação errada de minhas intenções. Para que fique bem claro, este seu BLOG é dos melhores e mais úteis blogs que vi até hoje na blogosfera, em muitos e variados aspectos. E, acrdeite que não estou a dar-lhe graxa; é mesmo!
Quanto ao Juizo que faço ou possa vir a fazer sobre algo do seu blog, é uma opinião imparcial pois não conheço qualquer dos intervinientes. No entanto, minha opinião é simplesmente minha opinião, sem pretenções a influências definitivas ou até "fatais".
Ainda quanto ao trabalho global da "Andante", não emito qualquer opinião, limitando minha crítica ao poema em questão, apenas!

De qualquer maneira, dirijo as minhas mais sinceras desculpas a quem se tenha sentido ofendido(a) com a minha opinião!

Escolha entre... beijos e abraços