
Um Ritmo Perdido
Poemas
Ana Hatherly
Edição de autor
Lisboa 1958
Este é o primeiro livro que Ana Hatherly publicou e com o qual iniciou a sua carreira literária, há 50 anos, antes de se enveredar pela poesia concreta. Mais tarde, em 1965, ligar-se-ia à poesia experimental e, em 1969, a exposição Anagramas, na Galeria Quadrante, marcaria o início do seu percurso nas artes plásticas.
É interessante conhecer, hoje, o livro com que Ana Hatherly se estreou, conhecendo-a nós como um dos grandes autores de poesia visual e experimental, percurso que iniciou colaborando no grupo de Poesia experimental, nos anos 60 e 70.
Este é o livro com que tudo principia.
Falas-me em asas,
Em voar...
Não vês que eu não sou nada,
Nem anjo nem pessoa,
Nem ave nem engenho,
Que é totalmente outra
A minha definição?
Eu não sou mais do que o próprio chão...
***
Nocturno
Com a mais fina areia se formaram duras pedras.
Com qualquer frágil flama se incendeia toda a terra.
Uma galáxia tem mil chamas
Consumindo-se e criando-se ininterruptamente...
A dor é toda uma,
Imutável e indiferente.
***
Ai que fadiga
De tantas árvores verdes
E tantas flores nos prados,
De tantas ondas azuis
E tantas nuvens brancas!
De tanta oferta rejeitada
E tanta promessa esquecida
— Ai que fadiga!
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