sexta-feira, 22 de maio de 2009
Na estante de culto
A Voz Fagueira de Oan Tímor
Fernando Sylvan
Recolha de Artur Marcos e Jorge Marrão
Prefácio de Maria de Santa Cruz
Edições Colibri
Dezembro, 1993
Com este livro, tornou-se acessível ao público a obra poética do poeta timorense Fernando Sylvan, quase desconhecida, apesar de existirem traduções das suas poesias em inglês, francês, italiano, sueco e japonês e de grupos culturais leste-timorenses terem divulgado, ao longo de várias décadas, o seus versos de Oan Tímor ("filho de Timor" em tétum) na reivindicação dos direitos de Liberdade e Identidade timorenses.
Este livro é constituído por 7 partes: os seis primeiros títulos publicados entre 1965 e 1982 e uma última parte com poemas dispersos, alguns dos quais circularam em cartazes, na imprensa ou em antologias diversas.
"Os seus poemas são profundamente humanos e têm a dimensão do infinito, abrindo novos horizontes à nossa sensibilidade. Comovem e fazem vibrar o espírito e a consciência de quem os lê. Foi o que me sucedeu, e não se apagará mais na minha sensibilidade e no meu cérebro a impressão de amor fraterno e solidariedade luminosa que dos seus poemas se desprende"
Maria Lamas, em carta de 18 de Setembro de 1980, agradecendo os livros "Tempo Teimoso" e "Meninas e Meninos".
Mensagem do Terceiro Mundo
1971 - Ano internacional contra o racismo
Não tenhas medo de confessar que me sugaste o sangue
E esgravataste chagas no meu corpo
E me tiraste o mar do peixe e o sal do mar
E a água pura e a terra boa
E levantaste a cruz contra os meus deuses
E me calaste nas palavras que eu pensava.
Não tenhas medo de confessar que te inventaste mau
Nas torturas em milhões de mim
E que me davas só o chão que recusavas
E o fruto que te amargava
E o trabalho que não querias
E menos de metade do alfabeto.
Não tenhas medo de confessar o esforço
De silenciar os meus batuques
E de apagar as queimadas e as fogueiras
E desvendar os segredos e os mistérios
E destruir todos os meus jogos
E também os cantares dos meus avós.
Não tenhas medo, amigo, que não te odeio.
Foi essa a minha história e a tua história.
E eu sobrevivi
Para construir estradas e cidades a teu lado
E inventar fábricas e Ciência,
Que o mundo não pôde ser feito só por ti.
(Mensagem do Terceiro Mundo - 1972)
***
..................................Cascais, 17 Setembro 1972
O Ditador
.....................................e coroava-se em cada novo dia.
..........................subia
................subia
O ditador
...................................................Mas despenhou-se.
(Tempo Teimoso - 1974)
***
Eu canto e o meu canto se enternece
de ouvir-se no seu eco e ser distante
tal como a estrela-sol quando amanhece
se orgulha de ter luz e ser andante.
Eu canto e o meu canto faz-se prece
e reza-se a si próprio qual amante
que esparge a sua fé como quem tece
os versículos de nova bíblia errante.
Sozinho na paisagem clara e bela
com o manto lustral dos olhos dela
e o que mais inventei e me aqueceu
o canto e a luz e a fé tudo é mais vivo
porque me sinto sempre em mim cativo
do amor que na verdade ela me deu.
(Dispersos)
***
O teu sexo fechado
tive de abri-lo com um beijo
como se não estivesse ainda desflorado
(MULHER ou o livro do teu nome - 1982)
***
Fernando Sylvan, pseudónimo de Abílio Leopoldo Motta-Ferreira, nasceu em Díli, no dia 26 de Agosto de 1917 e morreu em Cascais, no dia 25 de Dezembro de 1993. Participante activo da Resistência Maubere, foi poeta, prosador, dramaturgo e ensaísta.
Passou a maior parte da sua vida em Portugal mas sempre escreveu sobre o seu país de origem, dissertando sobre as suas lendas, tradições e folclore. Está representado em inúmeras antologias.
Presidiu à Sociedade de Língua Portuguesa, em Portugal e foi o criador do Dia Internacional da Língua Portuguesa.
Recebeu em 1965 a Medalha Pereira Passos pela constante fraternidade na sua obra (Rio de Janeiro). Recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (postumamente).
Publicou os seguintes livros de poesia:
Vendaval. Porto, 1942
Oração. Porto, 1942
Os Poemas de Fernando Sylvan. Porto, 1945
7 Poemas de Timor. Lisboa, 1965. 2ª edição, pirata. Lisboa, 1975.
Mensagem do Terceiro Mundo. Lisboa, 1972.
Tempo Teimoso. Lisboa, 1974. 2ª edição, Lisboa, 1978
Meninas e Meninos, Lisboa, 1979
Cantogrito Maubere – 7 Novos Poemas de Timor-Leste. Lisboa, 1981.
Mulher ou o Livro do teu Nome. Lisboa, 1982
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