terça-feira, 12 de maio de 2009
Na estante de culto
ODES
António Salvado
Apresentação de Paulo Samuel
Pinturas de Costa Camelo
Edições Caixotim
Série «da palavra o fruto»
Março 2009
Nunca regresso ao ponto de partida,
quando me leva como eremita
a solidão do dia em que viajo,
quando nem horizontes desordenam
com seus fechados véus
a vontade afincada de transpor
as linhas clandestinas.
E porque voltaria? Trabalhoso
seria descobrir
de novo a senda aberta ao retornar,
com poeiras e pedras, sobressaltos,
em toda a dimensão da revoada.
O ponto de partida
diluiu-se aliás no pesadelo
de noites infindáveis, sem contorno,
sem astros pelo céu a tilintarem
e sem segurança do romper
da manhã desejada.
Companheira leal, a solidão
parte sempre comigo
até onde a distância não existe.
Com seis reproduções de pinturas inéditas do artista Raul Costa Camelo e apresentação de Paulo Samuel, o mais recente livro de poemas de António Salvado destaca-se pela belíssima encadernação, com a capa revestida em tecido inglês.
«Ode» é, nestas páginas um “diminuto harpejo”, quando muito uma “canção dolente”, à qual o poeta teima em dar voz para aliviar o peso dos dias iludidos; mas, na sua totalidade, é também o mapa das amarguras e do lenimento humano, posto em registo de quando em quando disfórico, só retraído pela euforia de se saber o sinal da esperança que traz o renovo da criação. Tal como no seu primeiro livro, «A Flor e a Noite» (1955), o poeta, “só refúgio de si próprio”, apenas quer clamar a ode do destino que lhe cumpre: “Deixai-me […] acreditar nos dias / duma futura claridade!”
Ora, é também dessa claridade — rompendo o artificialismo e a opacidade do útil no quotidiano — que emerge a obra do pintor Raul Costa Camelo, aqui num fraterno diálogo com a poesia de António Salvado.
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2 comentários:
http://nocentrodoarco.blogspot.com/2009/05/canticos-da-terra.html
filomeno, flipado. La prueba viviente de la perfidia..
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