Morreu ontem, domingo, o escritor e poeta uruguaio Mario Benedetti, em Montevideu, aos 88 anos.
Mario Benedetti, nascido em Paso de los Toros em 1920, era poeta, escritor e ensaísta.
Integrante da Geração de 45, à qual perteceram também Idea Vilariño e Juan Carlos Onetti, entre outros, Benedetti era um dos mitos da literatura hispano-americana do século XX e talvez a consciência poética de todo um continente.
Viveu a adolescência na Argentina e regressou ao Uruguai depois da Segunda Guerra Mundial.
Estudou no Colégio Alemão de Montevideu, tendo depois exercido várias profissões, até se tornar conhecido como jornalista.
Em 1949 publicou "Esta mañana", o seu primeiro livro de contos, e um ano mais tarde, os poemas de "Sólo mientras tanto". Em 1953 editou o seu primeiro romance, "Quien de nosotros...".
Em 1973 abandonou o país por razões políticas, dando início a um longo período de exílio na Argentina, Peru, Cuba e Espanha, até ao seu regresso ao Uruguai com a restauração da democracia no país, em 1985.
Autor de uma vasta obra literária (mais de 80 livros), que inclui praticamente todos os géneros, desde letras de canções, poesia, ensaio, teatro e romance, como “Primavera rota con una esquina rota”, que recebeu o Prémio “Chama de Ouro” da Amnistia Internacional, em 1987.
Recebeu ainda os prémios Ibero-americano José Martí (2001) e Internacional Menéndez Pelayo (2005).
Poemas seus foram cantados por Joan Manuel Serrat, Daniel Viglietti, Pedro Guerra, Rosa León, Juan Diego e Nacha Guevara, entre outros.
Títulos como a primeira obra do autor, "La víspera indeleble", os "Poemas de la oficina", "Rincón de Haikus", os grandiosos três "Inventarios" ou as "Canciones del que no canta" foram incluídos no ano passado com seu último poemário, "Testigo de uno mismo".
O seu romance, "La tregua" teve mais de 140 edições em 20 idiomas desde que foi publicado, em 1960.
Benedetti recebeu também a Ordem Francisco Miranda,entregue pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, na Universidade da República do Uruguai, aclamado pelas centenas de estudantes que reconheceram no poeta um ícone nacional.
Corazón Coraza
Porque te tengo y no
porque te pienso
porque la noche está de ojos abiertos
porque la noche pasa y digo amor
porque has venido a recoger tu imagen
y eres mejor que todas tus imágenes
porque eres linda desde el pie hasta el alma
porque eres buena desde el alma a mí
porque te escondes dulce en el orgullo
pequeña y dulce
corazón coraza
porque eres mía
porque no eres mía
porque te miro y muero
y peor que muero
si no te miro amor
si no te miro
porque tú siempre existes dondequiera
pero existes mejor donde te quiero
porque tu boca es sangre
y tienes frío
tengo que amarte amor
tengo que amarte
aunque esta herida duela como dos
aunque te busque y no te encuentre
y aunque
la noche pase y yo te tenga
y no.
Coração couraça
Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste recolher a tua imagem
e és melhor que todas as tuas imagens
porque és linda dos pés à alma
porque és boa da alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e mais que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu existes sempre em qualquer parte
mas existes melhor onde te amo
porque a tua boca é sangue
e tens frio
tenho que te amar amor
tenho que te amar
ainda que esta ferida doa como duas
ainda que te procure e não te encontre
e ainda que
a noite passe e eu não tenha
e não.
Mario Benedetti
(tradução de António Costa Santos)
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