Morreu ontem, sábado, o poeta angolano Tomás Jorge, um autor muito importante na construção da identidade da literatura angolana.
(à esquerda, foto de Tomás Jorge Vieira da Cruz, tirada em Lisboa, no passado mês de Março de 2009, do blogue Soantes)
"Tomás Jorge (Tomás Jorge Vieira da Cruz. Luanda, 26.5.1928). Mestiço. Filho do poeta Tomaz Vieira da Cruz. 7.º ano dos liceus em Luanda. Preparador farmacêutico dos Laboratórios de Indústria Farmacêutica dos Serviços de Saúde de Angola, aposentado, desde 1971. Vive agora em Lisboa. Colaboração em Mensagem (Luanda), Cultura (II), A Província de Angola, ABC, Comércio, Jornal de Angola, Revista de Angola, Diário de Luanda, Itinerário, e outros. Figura em: Poetas angolanos, Lisboa, 1959; Poetas angolanos, Lisboa, 1962; Antologia poética angolana, Sá da Bandeira, 1963; Contos portugueses do ultramar, II, Porto, 1964; Angola, Poesia 71 - Cancioneiro angolano, Benguela, 1971.
Publicou: Areal, Sá da Bandeira, 1961. Tem para publicação: Relâmpagos de silêncio; Canto do menino; Civilização poluída; Talamungongo."
A biografia acima (de 1976), enviada pelo poeta Rui Almeida, consta no livro No Reino de Caliban II, org. de Manuel Ferreira, 3ª edição: Plátano Editora, 1997.
Segundo a Lusa, em 1995 publicou uma antologia da sua obra completa, "Talamungongo - 50 Anos de Poesia".
ADOLESCENTES
Não podes negar que bebeste leite
Da teta negra da mamã Ama
Tu mesmo o dizes
Teus lábios vermelhos
Como o sangue puro da mamã Ama
São quentes com palavras brandas
São a saudade da mamã Ama
Das brincadeiras antigas
Gajajeira e quintal de ripado
Sol nas casas de barro vermelho
Nós dois unidos em luta
Disputando o colo da mamã Ama
Nossas cabecinhas batendo
Nas tetas grandes da mamã Ama
Ela foi envelhecendo
Seus cabelos viraram brancura
Nós fomos crescendo
Do teu peito nasceram fontes de vida
Teus lábios ficaram mais cálidos
Minha menina branca por nebulosidade
Meu amor sem pecado
Meu peito também cresceu
Meu coração também cresceu
Amar-te?
Nego-me!
Agora seria desgostar a nossa mamã Ama
Seria fazê-la chorar lá no céu
Meu amor é pecado
Eu não sei a quem amo
A mamã Ama recomendou cuidado
Disse-nos que éramos irmãos
Minha branca de uma avó negra
Negra Isabel que faleceu desgostosa
Pela filha que não casou
Branca de um pai que se negou
Para mim
És aquela sempre menina bantu
— Minha irmã da infância
De olhos verdes de ternura
Boiando candidamente
Num corpo de nebulosidade nórdica
És a saudade da mamã Ama
Num corpo que faz lembrar
Um jardim de rosas brancas
Com toda a pureza de expressão bantu
Da nossa mamã Ama.
1951
(in Areal, Poemas, Colecção Imbondeiro, 1961)
1 comentário:
Conheço alguma da poesia de Tomás Jorge e desconhecia este desenlace.
Bj
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