segunda-feira, 13 de abril de 2009

Os livros que ele anda a ler




Tal como eu previa, Sérgio Godinho falou também, hoje, na Casa Fernando Pessoa, de poesia.
Até leu um poema de Joana da Gama:



Romance

Onde acharei sofrimento
para vida tão penada?
não me deixa meu tormento
com a dor desesperada;
tem-me feito tanto dano
que me tem a alma chagada;
no meio do coração
tristeza aposentada;
não lhe posso fugir, não,
que comigo vai pegada;
têm-me as potências somadas
que me não servem de nada;
nenhuma cousa de gosto
em mim pode ter entrada;
se alguma hora prazer vejo
faz-me ser mais enojada;
mil gritos dão meus sentidos
quando eu estou calada.

Joana da Gama
(1520?-1586)
Portugal


(poema incluído na antologia "Os dias do Amor")

Será possível ouvir esta conversa entre Inês Pedrosa e Sérgio Godinho, na próxima sexta-feira na Antena 1, a partir das 21 horas.

1 comentário:

PAS[Ç]SOS disse...

Para mim, que tive o prazer de estar presente, foi gratificante ouvir o escritor de canções que tanto admiro falar sobre livros, mas não só. Gostei das revelações, da frontalidade, das análises… não que me surpreendessem, apenas confirmaram o homem que Sérgio é. Fiquei com a curiosidade de que clarificasse melhor a fronteira entre o poema e a letra da canção. Para mim não existe e admiti que para ele também não. Ter-se-á limitado a não criar ‘conflitos’. O que é a sua 'Noite Passada' se não um poema? Por acaso, direi eu, musicado, mesmo que a composição primeira tenha sido a musical. É verdade que se torna difícil dissociar, nas canções do Sérgio Godinho, o poema e a música. Como ele disse não é fácil pensar no poema sem que lá ao fundo não ouçamos a melodia. E bem no final, já depois da sua última intervenção, não tive coragem de partilhar o que li há pouco tempo e considero ‘encaixar’ perfeitamente naquilo que o Sérgio aflorou sobre a importância do livro objecto; são palavras de Jorge Luís Borges em 'Este Ofício Poeta': ‘Sempre que entro numa livraria e encontro um livro sobre um dos meus passatempos – por exemplo, poesia inglesa antiga ou nórdica antiga – digo para comigo: «Que pena não poder comprar aquele livro… É que já tenho um exemplar em casa.» Também isto é um dia de amor… pelos livros.