sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fernando Pinto Ribeiro (1928-2009)

O dia começou triste. Faleceu o poeta Fernando Pinto Ribeiro.
Natural da Guarda, Fernando Pinto Ribeiro nasceu em 1928 e escreveu aos catorze anos o seu primeiro soneto a que deu o título “Soneto dos 15 Anos”.
Colaborou nas revistas Flama, Panorama, Páginas Literárias, e em jornais como o Diário de Notícias, o Diário Ilustrado e em vários jornais regionais, tendo também sido publicados no Brasil alguns poemas seus.
Dirigiu, com Eduíno de Jesus e J. M. Pereira Miguel, a Revista de Letras e Artes “Contravento” (1968) com concepção gráfica de Artur Bual, da qual só se editaram quatro números, devido à censura.
Organizou com Alba de Castro, entre 1967 e 1983, as Pastinhas de Poesia, publicadas anualmente na Queima das Fitas da Universidade de Coimbra. Participou em múltiplas colectâneas e organizou algumas, como as da Tertúlia Rio de Prata.
Pertenceu aos corpos sociais da Sociedade da Língua Portuguesa, foi sócio da Associação Portuguesa de Escritores, cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores e sócio da Colectividade Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”.
Fascinado pelas noites de fado lisboeta começou a escrever alguns fados que desde logo fizeram sucesso (inicialmente, com o pesudónimo Sérgio Valentino). Escreveu letras para: Ada de Castro, Alexandra Cruz, Anita Guerreiro, António Mourão, António Laborinho António Passão, António Severino, Arlindo de Carvalho, Artur Garcia, Beatriz da Conceição, Branco de Oliveira, Carlota Fortes, Chico Pessoa, Estela Alves, Fernando Forte, Francisco Martinho, Humberto de Castro, Julieta Reis, Sara Reis, Lenita Gentil, Lídia Ribeiro, Maria Jô-Jô, Pedro Lisboa, Lurdes Andrade, Natércia Maria, Pedro Moutinho, Salete Tavares, Simone de Oliveira, Toni de Almeida, Tonicha, Tristão da Silva, Xico Madureira, entre muitos outros.
Fernando Pinto Ribeiro era um homem de profundo saber, de grande afectividade e que prezava muito a amizade.
Procurava encontrar a perfeição, tentando que cada poema tivesse uma quadratura musicável, com rima e métrica. Foi assim que os seus poemas passaram a ser musicados e cantados.
«A poesia é para mim um acto natural, pelo que sou imediatamente compensado pelo simples acto de escrever poemas e de os rever continuamente. Vejo aliás na revisão permanente dos meus poemas uma espécie de volúpia, uma busca incessante pela perfeição, mas ciente de que nunca a atingirei».
Hoje despedimo-nos de um poeta a quem não foi feita justiça. Um poeta que, pela sua humildade, nunca procurou a ribalta e por isso não lhe chegou a ser reconhecido o seu grande valor. Um poeta perfeccionista que fazia poesia com amor.
O corpo do poeta irá hoje para a Basílica da Estrela e o funeral realizar-se-á amanhã pelas 14 horas.
Até sempre, Fernando!


cilício

a Inês Ramos

amar
sem loucura nem pecado.
beijar com as asas
soerguidas
num voo orientado
através de trincheiras sucessivas.
não mais ficar parado
na curva do prazer
(hão-de explodir um dia em vão as feridas
do laço em que te abraço a Lúcifer).
tenha o desejo fugido à nostalgia
da amarra no cais ultrapassado
e viva nas marés do dia-a-dia
rendido
à viril filosofia
da onda que vai vem contra o rochedo.
guardar
a seiva do segredo
e o pólen da pele
nos lábios túmidos
hoje e sempre
fiel
ao beijo heróico
mortal e permanente
em que te aguardo
em que me encontre
frontal
total
e eternamente.

Fernando Pinto Ribeiro

4 comentários:

oasis dossonhos disse...

Amiga

Transcrevi no meu blogue as suas palavras. Bem Haja!
Beijo
Luís

Anónimo disse...

MEDITAÇÃO SOBRE A MORTE (III)


O Eu
e o meu Eu,
findam com a morte.

Deles,
apenas fica a lembrança
que por si também é efémera.

Se os outros não recordarem,
até o reconhecimento do meu Eu,
cessará!

Inês,
tomo a liberdade de colocar aqui um dos meus poemas.
A sua homenagem é comovente!

Vicente

mariabesuga disse...

Deixo aqui o poema que deixei no http://aguasdosul.blogspot.com/


Morreu!
O Poeta morreu.
O Homem
deixou que a vida se fosse
e a morte
oportuna
oportunista
tomou lugar.

O Poeta foi
mas deixou lugar marcado
cativo, o lugar
de ficar aqui
A morte até pode tê-lo feito ir embora
pode
a morte só não nos obriga
a esquecer que neste lugar
aqui
com as palavras que foram as suas
fica o Poeta que não morre!...

Um abraço
Belmira Alves Besuga

21 Fevereiro, 2009 21:39

João Rasteiro disse...

Só hoje (22/02/09)me apercebi desta triste notícia. Espero apenas que o seu caminho ao longo dos anos, onde permanente escalpelizava o verbo de forma a preparar a chegada da morte - ou seja, a criação em seu senhtido absoluto.Até porque tive a honra de integrar conjuntamente com ele a antologia "Cánticos de la frontera" - Salamanca, apenas envio um fraterno abraço e até um dia destes.
João Rasteiro