Sem dizer o fogo – vou para ele. Sem enunciar as pedras, sei que as piso – duramente, são pedras e não são ervas. O vento é fresco: sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao mesmo tempo que a vento. Tudo o que eu sei, já lá está, mas não estão os meus passos nem os meus braços. Por isso caminho, caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e nesse intervalo, caminho e descubro o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passos há um intervalo também: então invento os meus passos e o meu próprio caminho. E com as palavras de vento e de pedras, invento o vento e as pedras, caminho um caminho de palavras.
.......Caminho um caminho de palavras
.......(porque me deram o sol)
.......e por esse caminho me ligo ao sol
.......e pelo sol me ligo a mim
.......E porque a noite não tem limites
.......alargo o dia e faço-me dia
.......e faço-me sol porque o sol existe
.......Mas a noite existe
.......e a palavra sabe-o.
António Ramos Rosa
Na voz de Luís Gaspar:
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