Metamorfose e Massacre
(fragmentos)
Os dedos demoram-se na sombra.
Suspendem-se no sangue poeiras germinantes, turvos
fluidos, fios translúcidos de sal e deslumbramento
que detêm o silêncio e estancam a luz.
Desvenda o coração o que o coração oculta.
A sombra revela o significado oculto desse ritual que o fogo
acumula no obscuro sinal de uma ruína sem nome.
Chamam-lhe escrita, outros preferem nomeá-la como infinito
exercício de adivinhação, dizem-na outros arte,
enigma redentor a que se entregam os que crescem
para o abismo e perturbam as trevas.
Recompensa ou castigo, eis o que obstina.
Por essas horas as mulheres arrastam pelas praias o espesso
manto da escuridão, convocam os mortos às encruzilhadas,
libertam trémulas luzes de obscuros papéis e sombras
calcinadas.
Corre implacável o curso da impaciência sob a ofendida
serenidade do poema
Amadeu Baptista
(O Sossego da Luz)
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