terça-feira, 6 de maio de 2008

Metamorfose e Massacre

(fragmentos)

Os dedos demoram-se na sombra.

Suspendem-se no sangue poeiras germinantes, turvos
fluidos, fios translúcidos de sal e deslumbramento
que detêm o silêncio e estancam a luz.

Desvenda o coração o que o coração oculta.



A sombra revela o significado oculto desse ritual que o fogo
acumula no obscuro sinal de uma ruína sem nome.

Chamam-lhe escrita, outros preferem nomeá-la como infinito
exercício de adivinhação, dizem-na outros arte,
enigma redentor a que se entregam os que crescem
para o abismo e perturbam as trevas.

Recompensa ou castigo, eis o que obstina.



Por essas horas as mulheres arrastam pelas praias o espesso
manto da escuridão, convocam os mortos às encruzilhadas,
libertam trémulas luzes de obscuros papéis e sombras
calcinadas.

Corre implacável o curso da impaciência sob a ofendida
serenidade do poema

Amadeu Baptista
(O Sossego da Luz)

Sem comentários: